Vamos
esperar que Bolsonaro se ilumine?
Para
o Brasil escapar de tragédias maiores, precisa vacinar 150 milhões de pessoas
no prazo mais rápido possível.
O
governo é incapaz de realizar esse plano de vacinação. Faltam vontade,
competência e habilidade diplomática. Qual é a saída?
Derrubar
o governo não basta. É preciso também tentar, simultaneamente, salvar vidas,
pois, cada vez mais, elas estão em jogo.
Se
todos compreendessem a urgência dessa tarefa, veriam que, na realidade, podemos
contar com o próprio esforço. Bolsonaro e Augusto Aras nos ameaçam com um
golpe, é tudo que sabem fazer. São tão estúpidos que nem percebem o mundo que
os envolve.
E
é sobre o mundo que precisamos conversar. As relações internacionais não podem
ser monopólio de um pequeno grupo de fanáticos. Precisamos, de todas maneiras,
romper o isolamento do país e deixar dentro de suas linhas estreitas apenas o
governo e seus seguidores.
Precisamos
de vacina num momento em que não há abundância: grande parte já foi comprada
pelos países ricos.
Percebo que os governadores se movem mas encontram dificuldades. Para um só estado, se colocar no mercado internacional é difícil. Mas talvez não seja tanto para um consórcio de estados. A Bahia e outros estados do Nordeste poderiam tentar fechar negócio com a Sputnik V. Não há autorização da Anvisa? Ela é muito parecida com a de Oxford, que já foi analisada. E já foi aprovada em muitos países.
A
Argentina está capacitada a produzir a vacina Oxford-AstraZeneca. Vai exportar
para a América do Sul, menos para o Brasil. Mas o Rio Grande do Sul não poderia
estabelecer uma relação com o governo argentino e abrir uma exceção? Nesse
movimento, poderia carregar também Santa Catarina.
O
governo brasileiro proibiu empresas de comprar vacinas. Isso é
inconstitucional. A obrigação do governo é fornecer vacinas gratuitas para
todos e não se meter em iniciativas particulares.
Um
pool de empresas poderia negociar com a Pfizer, a Moderna e a Janssen, que está
por vir, e, além de vacinar seus funcionários, doar grandes partidas para a
sociedade.
Naturalmente
que um plano nacional de vacinação é mais eficaz. Mas o governo não consegue
comprar tudo. A iniciativa passa para quem tiver as vacinas nas mãos; ninguém
conseguirá evitar que os trabalhadores da saúde a apliquem, ainda que sejam
vistos pelos burocratas como desobedientes.
É
possível dizer que talvez seja tarde demais. A ineficácia do governo e seus
preconceitos contra a China foram longe.
Mas,
ainda assim, é possível estabelecer um diálogo com a China fora do âmbito do
governo.
O
problema é que ficamos dependentes de China e Índia. Juntas elas têm quase 3
bilhões de habitantes. Só na primeira fase, a Índia quer vacinar 300 milhões. A
China pretende vacinar 50 milhões até o Ano Novo Lunar, que cai em 14 de
fevereiro. É muita demanda interna.
Um
movimento nacional pela vacina não seria mais apenas para pressionar Bolsonaro.
Ele já é uma carta fora do baralho, na medida em que fracassou parcialmente na
mais importante tarefa nacional.
A
campanha publicitária pela vacinação já está sendo feita por artistas
independentes. Se logramos, de alguma forma, negociar a vacina, talvez possamos
romper com esse impasse doloroso.
É
possível argumentar que talvez seja tarde. O ideal era ter compreendido isso
antes, mas seria difícil nos convencer quando o fracasso do governo ainda não
era nítido.
O
vírus não vai embora. Pelo contrario, ele se adapta à realidade num ritmo mais
rápido do que muitas cabeças humanas. Enquanto tivermos a pandemia, a vacina
sera a única saída estratégica. Não há escolha.
Vamos
esperar que Bolsonaro se ilumine? Ou que Ernesto Araújo torne-se simpático ao
governo chinês ou mesmo ao americano?
Tanto
na sua política internacional quanto nos conselhos cotidianos para romper o
isolamento, ignorar máscaras, tomar hidroxicloroquina, eles nos levam à
autodestruição.
Diante da grande tarefa, o governo é incapaz. Somos o plano B, se a sociedade não ocupar também esse espaço, travaremos uma estéril batalha verbal.
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