Folha de S. Paulo
Presidente sente abandono e explora medo do
PT para fazer cobrança a empresários
Jair Bolsonaro se sente abandonado. Depois
de contar com o apoio de investidores e empresários para chegar ao Planalto, o
presidente se queixou da apatia desses grupos com sua campanha à
reeleição. No
evento de um banco, ele se irritou com aqueles que consideram certa uma
vitória de Lula nas urnas: "Dá para deixar rolar tudo numa boa? Quem
chegar chegou? Tudo bem?".
O presidente tenta usar a seu favor a liderança do petista nas pesquisas e aplica uma tonalidade renovada à campanha do medo da volta de Lula. Nos últimos dias, ele agitou diante dos conservadores um perigo iminente da liberação do aborto e lançou maus agouros aos endinheirados que já fazem projeções econômicas para um futuro governo do PT.
Na conferência do banco, Bolsonaro falou
como se a plateia tivesse deixado de acreditar nele. Disse que Lula representa
riscos para as reformas dos últimos anos e cobrou apoio para espantar o velho
fantasma vermelho. "Isso não significa nada para a classe pensante do
Brasil? Acham que podemos flertar com o comunismo?", perguntou, aos
gritos.
O discurso da ameaça petista ganha
tração graças
à vantagem de Lula nesta etapa da campanha. O presidente aproveita o
cenário para buscar faíscas de antipetismo, começando por aqueles que receberam
atenção especial de seu governo –ainda que sua incompetência tenha
limitado os ganhos desses grupos.
Com Lula na frente, Bolsonaro busca
credibilidade para sensibilizar os mais ricos com o perigo de reversão da
agenda econômica. Para atingir os mais pobres, que ainda sofrem com a crise,
ele procura canais adicionais e alega que o possível retorno do PT significará
a liberação das drogas e do aborto no país.
Para mudar o retrato das pesquisas,
Bolsonaro precisa do pessoal da base da pirâmide, mas a turma do alto também
pode lhe ser útil. Além de reverter a sensação de tranquilidade com uma
possível vitória de Lula, a tal "classe pensante" costuma ser
essencial para líderes que ensaiam manobras autoritárias.
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