Correio Braziliense
Por muito pouco, o
ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre não aprovou uma emenda constitucional
para que senadores e deputados pudessem ocupar o posto de embaixador sem abrir
mão do mandato
Florence Nightingale Graham nasceu no
último dia de 1881, em Woodbridge, no Canadá, sendo criada pelo pai e pelos
irmãos após a morte da mãe, quando tinha 6 anos. Enfermeira de formação,
começou a produzir cremes para tratamento de queimaduras e logo transformou sua
cozinha num laboratório, onde passou a criar hidratantes e cremes nutritivos,
em busca da pele perfeita. Mudou-se aos 30 anos para Nova York, casou-se com um
químico e, em 1910, abriu sua primeira loja na Quinta Avenida. Dez anos depois,
produzia uma linha de mais de 100 produtos, mudou seu nome para Elizabeth
Arden, inspirada num poema de Alfred Tennyson, e se tornou a maior produtora de
cosméticos do mundo.
No Rio de Janeiro, o Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores de 1899 a 1970, graças ao Barão do Rio Branco, mais ou menos nesse período, já abrigava um corpo diplomático respeitado internacionalmente, cuja formação começou no Império e que fora educado para defender os interesses do Estado brasileiro. Após a Segunda Guerra Mundial, com a criação da Organização das Nações Unidas, as embaixadas de Nova York, Londres e Paris passaram a ser os postos diplomáticos mais cobiçados.
Nas rodas de conversa do velho Itamaraty da
Rua Larga, essas embaixadas ganharam o apelido de Circuito Elizabeth Arden,
porque as sacolas e embalagens dos produtos da marca famosa vinham sempre com
os nomes dessas três cidades. A propósito, Florence também foi hábil diplomata,
tendo recebido a Legião de Honra do Governo da França. Na Segunda Guerra
Mundial, criou o batom vermelho Montezuma Red, para dar mais feminilidade aos
uniformes das mulheres que haviam se incorporado às forças armadas dos Aliados.
A turma do Centrão sempre gostou de comprar
produtos de grife, durante as missões parlamentares no exterior, mas agora está
de olho mesmo não é nos produtos de beleza, lenços e gravatas, mas no Circuito
Elizabeth Arden, que não se restringe mais às três cidades famosas. Washington,
Buenos Aires, Roma, Lisboa, Berlim, Genebra, Moscou, Tóquio e Pequim, entre
outras embaixadas, são os postos mais importantes para a política externa
brasileira.
Nesta semana, por muito pouco, o
ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) não aprovou uma
emenda constitucional para que senadores e deputados pudessem ocupar o posto de
embaixador sem ter de abrir mão do mandato. A Constituição permite que o
presidente da República nomeie para o cargo de embaixador qualquer cidadão de
reputação ilibada, não precisa ser um diplomata, mas impede que os políticos se
licenciem do cargo para ocupar esses postos sem perder o mandato.
Alcolumbre não conseguiu seu objetivo
porque houve forte reação dos senadores mais experientes da Casa e do corpo
diplomático, principalmente dos embaixadores. O chanceler Carlos França, porém,
reagiu de forma tímida. Depois de muita pressão, emitiu uma nota na qual o
Ministério das Relações Exteriores afirma que a emenda viola cláusula pétrea da
separação de Poderes e a competência privativa do presidente da República:
“Todo embaixador deve obediência ao presidente da República, por intermédio de
seu principal assessor de política externa, o ministro das Relações Exteriores.
Há exemplos de eminentes ex-parlamentares, indicados pelo presidente e
aprovados pelo Senado, que desempenharam com brilho a responsabilidade de
embaixador. Nesse caso, o ex-parlamentar é servidor do Poder Executivo Federal,
subordinado ao Presidente da República”.
Fronteiras
Diante das pressões, o ministro da Casa
Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), operou para adiar a votação e emitiu uma nota
endossando a posição do Itamaraty. A Constituição já permite que parlamentares
assumam cargos de ministro de Estado ou secretários estaduais sem perder o
mandato, mas chefias de uma missão diplomática somente no caso das temporárias.
Alcolumbre quer ampliar a regra para que parlamentares também assumam uma
embaixada de forma permanente, sem perda do mandato.
A proposta abre uma porta giratória para o
entra e sai de políticos nas embaixadas, além de criar um tremendo
constrangimento para os diplomatas nas sabatinas do Senado. O que está por trás
dessa ideia pode ser muito tenebroso. Primeiro, atrair mais interesse dos
suplentes de senadores que são financiadores de campanha. Nesse caso, as
embaixadas virariam moeda de troca para acordos fisiológicos.
Segundo a consultoria do Senado, em
questionamento feito pelo senador Esperidião Amin (PP-SC), que se opôs à
medida, aproximadamente 200 cargos do Itamaraty no exterior estariam
disponíveis para tais acordos. O Brasil não vive seu melhor momento em termos
de política externa, mas o profissionalismo dos nossos diplomatas é
reconhecido. Um bom exemplo é a atuação do embaixador Ronaldo Costa Filho no
Conselho de Segurança da ONU, cuja presidência rotativa ocupa neste momento.
Alcolumbre tem interesses específicos nas
relações diplomáticas com Venezuela, Panamá e países árabes, principalmente a
Arábia Saudita. A mudança na legislação, para permitir a ocupação desses cargos
diplomáticos por políticos, abre uma porteira que vai muito além do circuito
Elizabeth Arden. Por exemplo, os interesses das igrejas evangélicas nos países
da África; e até mesmo coisa muito pior, nos estados que fazem fronteiras com
os países vizinhos.
Um comentário:
Tem que ter dois candidatos em cada partido, 1 para cuidar da reeleição e 2 para cuidar da fome e outros problemas OBIGACOES de um presidente, talvez assim resolvam os descasos do gioverno Bolsonaro. O Paulo
Guedes logo arranja a solução com o Centrão
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