O Globo
Há soluções, mas é necessário vencer a
inércia
Os impactos das mudanças do clima atingem
severamente a população mundial. O AR6, último relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), estima que de 3,3 bilhões
a 3,6 bilhões de pessoas vivam hoje em locais ou contextos altamente
vulneráveis às alterações. Gênero, etnia e renda são fatores de aumento de
vulnerabilidade.
Diversos eventos previstos nos relatórios
de estado da arte da ciência estão ocorrendo antes do esperado, e muitas
ocorrências extremas não previstas também estão acontecendo. Isso não
surpreende, na medida em que a ciência só pode se pronunciar quando todas as
etapas do método científico são preenchidas, sendo sempre e corretamente
conservadora.
No Brasil, apenas em 2022, sofremos grandes inundações em Pernambuco, Alagoas, Minas e Bahia. A ocorrência no ano passado, mais uma vez, de crise de escassez de recursos hídricos no Sul do país acendeu o sinal de alerta sobre o aumento da frequência de evento tão impactante e o temor de uma mudança de padrão na disponibilidade de água no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com consequências de grande magnitude.
O Princípio da Precaução está sendo
ignorado. Pontos de inflexão representam equilíbrios dinâmicos que, quando
ultrapassados, entram em espiral de mudanças.
O risco de ruptura de algum dos cinco
pontos de inflexão com impacto global — mantos de gelo na Antártica e Groenlândia,
desmatamento da Amazônia,
degelo do solo da Sibéria (o permafrost), jatos de vento no continente
norte-americano e a possibilidade de alteração na grande corrente marinha
oceânica —está aumentando e, com isso, a probabilidade de uma grande tragédia.
Sabemos o que fazer, soluções já existem, e
muitas outras serão desenvolvidas, em especial as baseadas na natureza. Mas é
preciso vencer a inércia e as resistências econômicas e políticas ancoradas no
passado.
Os ativistas climáticos em todo o mundo, as
organizações do terceiro setor, os diversos coletivos e as organizações da
sociedade civil são a centelha que pode, por meio de ações concretas, projetos
e pressão política e cultural, acelerar o enfrentamento da crise climática e
impulsionar governos e empresas à velocidade necessária para evitar os piores
cenários de aquecimento global.
Em agosto haverá um treinamento do Climate
Reality Project para o Brasil. Projeto de Al Gore, ex-vice-presidente dos
Estados Unidos, em 191 países, tem o objetivo de apresentar o melhor conhecimento
sobre a realidade climática. A iniciativa propõe também aumentar a rede dos
líderes climáticos no Brasil e noutros países de língua portuguesa. Essa rede é
uma poderosa ferramenta para troca de conhecimento, ativismo local, global e
ações em parceria com as outras redes e organizações de ativismo climático.
*Sérgio Besserman é coordenador estratégico do Climate Reality Project Brasil
Um comentário:
O Bozo acha que preocupação com o meio ambiente é frescura de esquerdista.
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