O Estado de S. Paulo
Haddad é muitíssimo diferente de Guedes, mas também pronto a engolir sapos
Passada a festa, com o presidente Lula
empossado, o ex-presidente Bolsonaro curtindo Orlando e os golpistas de volta
para casa, o governo começa já com forte queda do mercado ontem. Não é um grito
a ser desprezado, porque não é exclusivo do mercado, vilão para todos os
gostos.
Já na posse, Lula sinalizou que o velho Lula e o velho PT estão de volta, com seu amor pelo Estado lento e obeso e a crendice de que é assim que se produz desenvolvimento, bem-estar e igualdade. Há controvérsias. Não apenas o mercado, mas também o setor produtivo, economistas, jornalistas da área econômica e especialistas de diferentes áreas discordam.
Em discursos, Lula fez o esperado apelo à
alma nacional contra fome e desigualdade. Assim como a defesa da
responsabilidade fiscal não é exclusividade do mercado, a defesa dos miseráveis
e da diversidade e dos milhões de famílias na rua da amargura, sem emprego,
casa e comida, não é exclusividade de Lula. Mas ninguém com mais autoridade do
que ele para verbalizá-la.
O complicado é equilibrar o justo combate à
injustiça social e o correto equilíbrio das contas públicas. É bem mais fácil
falar da miséria com compaixão do que convencer que quem paga o pato de
promessas e gastos a rodo são os miseráveis. Um dilema ainda mais velho que
Lula e o PT é o conflito nos governos entre o que é popular
(político/populista) e o que é preciso (pragmático/técnico).
Ao assumir, ontem, Haddad fez um discurso
morno, cuidadoso, avisando que não seria “um posto Ipiranga” e teria “vários
postos”. Veio à mente o seu antecessor, Paulo Guedes, que começou como
superministro e perdeu, uma a uma, as grandes guerras com Centrão, generais e
filhos de Bolsonaro.
Em 2018, Guedes foi conveniente para dar
falsos ares de liberalismo e abertura econômica a um capitão insubordinado,
corporativista e nacionalista a la anos 1950. Já Haddad pensa igual e joga o
mesmo jogo de Lula. Em comum nas duas duplas é que Haddad, como Guedes, está
pronto para engolir sapos. Aliás, começou já no dia da posse, desautorizado na
desoneração dos combustíveis.
Haddad não faz questão de fingir que veio
para fazer tudo que seu mestre mandar. O quê? O que está nos discursos de
posse, quando Lula acusou o teto de gastos de “estupidez”, não falou em nova
âncora fiscal, mirou a reforma trabalhista e já atirou nas privatizações.
“Revogaço” na política de armas e na segurança, saúde, educação, ambiente,
cultura, política externa... é saudável, um alívio. Mas na economia, sem
consenso, em medidas desde Michel Temer? Como na canção, “foi bonita a festa,
pá, mas é preciso navegar, navegar...”
3 comentários:
"Haddad não faz questão de fingir que veio para fazer tudo que seu mestre mandar"
Ou talvez Haddad pense como Lula, na maioria das vezes.
Em outras vezes, Lula convence; noutras, é convencido.
MAS, os colunistas têm sempre um "mas" e eu tb, pode ser q Haddad seja pau-mandado.
Eliane não dá mole,cobra mesmo.
'Mas' também é chegada a engolir um sapinho, a soldo
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