terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Pedro Fernando Nery - Uma parceria a favor da ‘economia do bem-estar’

Estado de S. Paulo

Países como Nova Zelândia e Finlândia já têm iniciativas que vão além da medição do PIB

Comecemos o novo-ano falando de futuro. Liderada por mulheres, uma iniciativa quer transformar a forma como governos medem o progresso. O tema não é lá exatamente novo, mas segue atual. Sabemos: o que a gente mede define o que a gente faz.

O Produto Interno Bruto (PIB) tem problemas conhecidos há um tempo: de uma era industrial, não mensura tão bem a economia de serviços – em particular, a digital. Não é sensível à preservação ambiental diante da urgência climática. Não capta atividades não monetizadas, várias fundamentais para a saúde mental (pense uma meditação, uma caminhada no parque). É omisso quanto à desigualdade, sendo mais influenciado pela prosperidade dos mais ricos do que dos mais pobres.

Mas ele segue amplamente utilizado, permitindo comparações no tempo e entre territórios. Mais ou menos como o teclado em que digito esta coluna: o padrão QWERTY não é considerado o mais eficiente, mas substituir as teclas por uma ordem nova é muito difícil depois que o mundo já adotou por décadas o padrão antigo.

A “parceria da economia bem-estar” é uma nova tentativa de mudar. É capitaneada pelas chefes de governo de Nova Zelândia, Finlândia, Islândia e Escócia.

Entre as novidades, a Islândia já acompanha periodicamente dados de voluntariado, nível de confiança entre os cidadãos, satisfação no emprego e sensação de insegurança. A Nova Zelândia é mais detalhista, chega a olhar para indicadores de cultura, interação com amigos, atividade física e sentido de propósito na vida.

É preciso alguma cautela, porém. Em algum momento, informação demais, em vez de ajudar, deve atrapalhar a capacidade de um novo indicador permitir diagnósticos da sociedade e, consequentemente, de se traçar estratégias de políticas públicas.

O Brasil está bem vocacionado para embarcar na iniciativa. Pode ser por meio de umas lideranças femininas do novo governo, que estão em número recorde. Não há ainda países emergentes na aliança, que têm “lugar de fala” para questionar o PIB e seus rankings.

Temos ainda uma tradição de boa burocracia na área: o IBGE, orgulho nacional, além do Ipea, tem técnicos qualificados para tratar da necessidade e limites de um novo modelo de indicadores.

A pegada conservacionista e anticonsumista do projeto também faz sentido para nosso País, que pretende se reposicionar como potência verde. Pode-se explorar ainda um certo estereótipo de país conhecido mundialmente pelo Pelé, pelo “joga bonito”, que deve ter algo a dizer sobre como viver bem.

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