Folha de S. Paulo
Em quatro anos dizendo banalidades,
Hamilton Mourão engoliu sapos e petiscos finos
Em quatro anos como vice-presidente nominal
de um governo que, se pudesse, o confinaria no armário das vassouras, Hamilton
Mourão apareceu centenas de vezes na TV. A cada barbaridade cometida por Jair
Bolsonaro, a imprensa mandava uma equipe à porta do Palácio do Jaburu para
ouvir Mourão. E Mourão estava sempre chegando de algum lugar. Descia do carro
oficial, abotoava o paletó e, indagado sobre a dita barbaridade, minimizava-a,
esfriava-a com descansada displicência e dizia que era aquilo mesmo, coisa banal,
sem importância.
Em suas crônicas, Nelson Rodrigues se maravilhava com a impassibilidade de certas pessoas. Um dia, referindo-se a um político estilo Mourão, Nelson escreveu: "Se, num jantar, servirem-lhe ratazana ao molho pardo, ele encarará o prato com a maior naturalidade. E ainda perguntará se não têm uma pimentinha". Mourão fez parecido: digeriu sem reclamar os inúmeros sapos à milanesa que Bolsonaro lhe serviu em forma de desprezo e desrespeito.
Mas Mourão não tinha por que reclamar.
Depois de 40 anos encarando a boia do quartel, a Vice-Presidência foi-lhe um
maná. Sabe-se disso agora com a abertura do seu cartão corporativo, aquele que
paga as despesas das autoridades com o nosso dinheirinho. Em quatro anos,
Mourão devorou R$ 4.195.038, 16. Nada mal para quem, como vice-presidente, já
tinha casa, comida, roupa lavada, serviçais, gasolina, aviões e hotéis pagos,
além de 40 seguranças.
Purgando o longo tempo perdido, nosso caro
Mourão prestigiou delicatessens, confeitarias, peixarias, padarias e adegas
gourmet. Um almoço no chiquérrimo Gambrinos, em Lisboa, custou-lhe —custou-nos—
R$ 1.043,00. E foi um fiel cliente de lojas de móveis, de manutenção do lar,
material esportivo, bicicletas e até de sementes, mudas e insumos.
Para Mourão, os indígenas, de que ele se diz originário, são "indolentes". Pelo visto, há exceções.
3 comentários:
O colunista se enganou no título: Nosso caro EX-vice-presidente! Assim como o GENOCIDA não é mais nosso caríssimo presidente, o agora senador Mourão (graças aos eleitores gaúchos, que se gabam de ser o povo mais educado politicamente...) não é mais nosso vice! Já foi tarde...
Também, filho de general e de coronel (a mãe)...
Ele foi um vice caro mesmo.
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