O Globo
Com pressa para apresentar resultados,
presidente relança vitrines de governos petistas
Lula está com pressa. Na terça-feira, o
presidente disse aos ministros que o mandato é “muito curto”. Acrescentou que
quatro anos passam “rapidíssimo” para quem está no poder. “Nós não temos muito
tempo para ficar pensando no que fazer. Temos que fazer”, cobrou.
O petista está preocupado com o calendário.
Sabe que se aproxima dos cem dias de mandato. A data costuma marcar o primeiro
balanço de um novo governo. É quando a imprensa e a sociedade começam a
comparar o que foi prometido ao que foi entregue.
Lula informou que deve celebrar a efeméride
com um pronunciamento na TV. Se o discurso fosse ao ar hoje, teria ares de
“Vale a pena ver de novo”. Até aqui, o governo apresentou poucas novidades.
Preferiu apostar na reciclagem de velhos programas.
Em fevereiro, o presidente relançou o Minha Casa Minha Vida. No início de março, recriou o Bolsa Família. Na semana passada, ressuscitou o Pronasci. Amanhã fará uma solenidade para anunciar a volta do Mais Médicos.
Em alguns casos, a retomada de políticas
públicas é bem-vinda. Jair Bolsonaro interrompeu iniciativas bem-sucedidas por
pura birra. Além de trocar de nome, os programas pioraram. O Auxílio Brasil,
que substituiu o Bolsa Família, deixou de exigir a vacinação das crianças.
A aposta em slogans antigos não é um mal em
si. O problema é querer apoiar o novo governo em pilares fincados há duas
décadas. O país mudou. As demandas do eleitorado, também. Fórmulas que deram
certo em 2003 podem não produzir os mesmos efeitos em 2023.
A campanha já havia indicado uma inclinação
do PT ao passadismo. Os comícios foram embalados com o jingle de 1989. Sem medo
de ser feliz, a militância vestiu camisetas com a foto do jovem Lula no Dops. A
nostalgia pode ter rendido votos, mas já passou da hora de tirar os olhos do
retrovisor.
Ao investir na tática da reprise, o governo
também deixa de aprender com erros pretéritos. Arquitetos e urbanistas cansaram
de apontar falhas no Minha Casa Minha Vida. Criticaram a má qualidade das
construções, a escolha de terrenos distantes dos postos de trabalho, a escassez
de creches, escolas e áreas de lazer.
Ao relançar o programa, Lula não apresentou
solução para nenhum desses problemas. O presidente subiu no palanque e
enalteceu um passado idealizado. “A gente vai voltar a sorrir, a gente vai
voltar a ter esperança, a gente vai voltar a ter alegria”, prometeu.
Legítima defesa
O ministro Alexandre de Moraes encaminhou
ao Conselho de Ética da Câmara indícios de crimes praticados pelo deputado Cabo
Gilberto Silva (PL-PB). O bolsonarista usou as redes sociais para incitar os
atos golpistas de 8 de janeiro.
“Era previsível a população não aceitar
pacificamente”, escreveu, enquanto correligionários depredavam as sedes dos
Três Poderes. Em outro tuíte, ele inflamou a turba contra o presidente do
Senado.
O Congresso tem o dever de cassar parlamentares que conspiram para fechá-lo. Punir quem prega a ditadura é um ato de legítima defesa da democracia.
2 comentários:
Boa análise das limitações do terceiro governo Lula.
Verdade.
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