sábado, 11 de março de 2023

Carlos Alberto Sardenberg - No lugar da China

O Globo

Abre-se neste momento uma enorme oportunidade para que países ocidentais tomem o lugar dos chineses

No ambiente internacional, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, não é propriamente um aliado fiel dos Estados Unidos. Ao contrário. Ele se alinha mais à esquerda internacional e não perde oportunidade para manifestar sua oposição a posições americanas. O presidente do México defende Cuba, “país livre e soberano”, não condena a ditadura local e sempre se manifesta pelo fim do embargo dos EUA ao comércio com a ilha.

Mas Obrador não rasga dinheiro. Em 2022, o comércio do México com o Texas foi cinco vezes maior que as trocas comerciais com toda a América Latina. Um dos três integrantes do acordo de livre-comércio da América do Norte, junto a Canadá e EUA, o México despacha nada menos que 70% de suas exportações a consumidores e fábricas americanas.

Sim, grande parte dessas vendas é produto de empresas americanas (e europeias) lá instaladas. Isso é bom ou é ruim? Para Obrador, certamente é muito bom. Neste momento, em conversas com Elon Musk, o presidente mexicano tenta atrair para seu país a nova megafábrica da Tesla — investimento de US$ 5 bilhões, mais de 6 mil empregos diretos. Hoje, a maior fábrica da Tesla está em Xangai, na China.

O movimento é significativo. As relações políticas e econômicas entre Estados Unidos e China passam por um momento muito difícil e complexo. De um lado, as relações comerciais e de investimento, construídas ao longo de décadas, são amplas e intensas.

Alguns exemplos: entre os aplicativos mais baixados nos Estados Unidos recentemente, estão Temu, uma nova marca de roupas; CapCut, para edição de vídeos; e TikTok. O que têm em comum? Todos são chineses. Temu não tem nem lojas nem fábricas nos EUA. Manda tudo da China.

Até antes da pandemia, essa relação EUA-China seguiu assim, entre desconfianças e tolerância. Afinal, os produtos chineses, antes apenas mais baratos, tornaram-se baratos e de boa qualidade, uma festa para o consumidor. Mas aí começaram a aparecer os problemas, primeiro geopolíticos, depois econômicos. Exemplo importante: nos Estados Unidos, o governo, o Congresso, os partidos e os órgãos de segurança desconfiam que as autoridades chinesas usam o TikTok para fazer propaganda contra o Ocidente e para recolher dados pessoais de consumidores ocidentais. Por isso vários países discutem a possibilidade de simplesmente banir esse aplicativo.

Casos assim se multiplicam, especialmente nas áreas sensíveis de alta tecnologia. Governos dos Estados Unidos e de seus aliados tratam de reduzir a dominância das companhias chinesas. Estas se defendem à sua maneira. TikTok mudou sua sede para Cingapura e separou suas operações do Douyin, o TikTok local.

Não tem sido suficiente. As empresas ocidentais sentem cada vez mais dificuldade em trabalhar nesse ambiente de conflito geopolítico. O presidente Xi Jinping apoia a Rússia, mesmo na guerra na Ucrânia, monta um enorme arsenal nuclear, ameaça Taiwan, protegida pelos EUA, e sua ditadura toma atitudes hostis em relação a grandes empresas ocidentais. Sem contar as reviravoltas no ambiente local, como ocorreu com as políticas de combate à Covid-19.

Vai daí, surge no ambiente internacional a tendência nearshoring — fazer negócios com os vizinhos, países mais próximos e confiáveis. Eis por que começamos com a história de Elon Musk tratando de colocar sua nova fábrica no México, e não na China. Abre-se neste momento uma enorme oportunidade para que países ocidentais tomem o lugar da China. Isso exige estratégia de governos e empresas.

A China tornou-se a principal parceira econômica de muitos países, inclusive do Brasil. Qual é o jogo? Manter abertos os canais para vender na China, mas ao mesmo tempo estreitar relações com os países ocidentais desenvolvidos e suas empresas, que buscam parceiros próximos e confiáveis.

O México está jogando, também no quesito do equilíbrio macro. A dívida pública está em 50% do PIB. No Brasil, 74%, com viés de alta. E a diplomacia brasileira está mais para ideológica e partidária do que pragmática em defesa dos interesses do país.

5 comentários:

Anônimo disse...

Este colunista fica cada vez mais babaca:
"diplomacia brasileira está mais para ideológica e partidária do que pragmática em defesa dos interesses do país."
O colunista deve estar falando do DESgoverno Bolsonaro... Não da nova política externa escolhida por Lula, que segue o que ele já fez nos 2 mandatos exteriores: valorizar as empresas brasileiras através também do setor diplomático.
A maior valorização do comércio com países próximos, apresentada pelo colunista como grande tendência atual, também sempre foi feita nos 2 governos Lula, onde o Mercosul e os países sul-americanos sempre foram uma grande prioridade da política externa brasileira. Agora, Lula foi à Argentina muito antes de ir aos EUA, mesmo que o governo deste país quisesse apressar ao máximo a visita de Lula aos EUA.

Anônimo disse...

É impressionante como os zumbis petistas em todos os comentários aqui postados partem logo para agredir desqualificar demonstrando que não têm argumento para contrapor só a agressão. Gente muda, vocês, para usar uma palavra querida de seu vocabulário, tomaram porrada demais, não aprenderam? Podem voltar a tomar. A diferença foi mínima. Minha opinião: espero que isto não aconteça mas mudem o tom, aqui não é assembleia estudantil.

Anônimo disse...

Tem muito criancice tambem, principalmente do Marcos Andrade Moraes, o vulgo
Mam que esqueceu de crescer e que chama todo mundo de covarde. Um babaca inutil e grosseiro que estraga a onde quer que va.

Anônimo disse...

Ei Marcos Andrade Moraes o MAM e não o MAN - quando você vai finalmente crescer? Parece um cachorro louco atacando tudo e a todos. Cresce!

ADEMAR AMANCIO disse...

Carácoles!