Folha de S. Paulo
Mercado só enxerga problema quando vira
gasto
Uma pesquisa
Genial/Quaest revelou que 98% dos gestores de mercado (em uma amostra
de 82) reprovam os rumos da política econômica de Lula. A primeira
coisa a ser dita é que se os 2% de gestores que discordam estiverem certos
devem fazer uma boa grana nos próximos anos.
Em um certo sentido, o resultado da pesquisa
era de se esperar. Os gestores de fundos certamente estão entre os
1% mais ricos da população, que não é território eleitoral fértil para a
esquerda. E seria ridículo não reconhecer que os gestores, como todos os outros
seres humanos, têm suas opiniões políticas.
Por exemplo, esta coluna está desde
dezembro perplexa com o pessoal do mercado que achava que Haddad era
um radical. Hoje não parece haver ninguém que ache isso, mas Haddad não mudou,
o mercado é que se rendeu às evidências.
Aliás, bom lembrar: boa parte da turma que
hoje tem medo de que "Lula não deixe Haddad trabalhar" teve a chance
de eleger Haddad presidente em 2018. Ao invés disso, preferiram votar em um
muambeiro genocida e golpista que quebrou o país e fugiu pra Disney.
Isso não quer dizer, entretanto, que a esquerda e o mercado nunca possam estar de acordo um com o outro, ou que a esquerda não cometa erros que reforçam a percepção ruim do mercado sobre ela.
O mercado tem gente muito inteligente que
ganha muito dinheiro se acertar diagnósticos sobre alguns assuntos, como as
variações do PIB ou
a situação
fiscal. Vale a pena ouvi-los sobre essas pautas. Por outro lado, há todo um
universo de problemas relevantes que demoram para virar queda do PIB ou aumento
de gasto, ou nunca viram. Sobre isso, é melhor não ouvir o mercado.
Por exemplo, boa parte do aumento de gastos
de Lula até agora foi para resolver crises deixadas por Bolsonaro na área
social. Esses gastos foram contratados quando Guedes deixou os trabalhadores
brasileiros sem aumento real de salário mínimo por quatro anos, ou quando
Damares se recusou a enviar água para as crianças yanomami. Mas só apareceram
na conta do mercado quando viraram gasto, já sob outro governo.
Por outro lado, se o mercado só enxerga o
problema quando ele vira gasto, a esquerda às vezes só enxerga a crise quando
ela vira corte de gastos. Como o mercado nos casos acima, ela também tende a
colocar a culpa no cara que tenta resolver o problema.
Nos subsídios dados pelo primeiro governo
Dilma já está contada, inteira, a história do ajuste de Joaquim Levy. Por que o
empresariado teria investido os recursos dados por Dilma se era claro que eles
causariam uma crise fiscal, obrigando o governo a fazer um forte ajuste? O cara
que montou uma fábrica em 2012 com seu incentivo fiscal encontrou quantos
consumidores em 2015?
Uma boa maneira de conciliar esses
horizontes é uma regra fiscal bem bolada, que, como já disse o ex-ministro
Nelson Barbosa, tem
que agradar "as ruas e a Faria Lima".
Ao que parece, a nova regra fiscal deve ser
assim. A proposta ainda não vazou, mas o que se depreende das entrevistas até
agora é que ela deve ser muito melhor que o
teto de gastos aprovado em 2017.
Torço para que a regra seja boa, para que
as reações das ruas e da Faria Lima sejam razoáveis, e para que os 2% de
gestores do primeiro parágrafo passem o resto da vida rindo da cara dos colegas
de firma.
4 comentários:
Mais um texto excelente do colunista! Análise sensata e equilibrada.
Perfeito.
Esse foi no centro do alvo 🎯
Bom dia a todos e em particular àqueles que não se silenciam dos sofrimentos de toda a nação ucraniana e das famílias russas que perdem seus meninos a troco de nada. Lembrando ao Sr. Putin, frase de Alexandre,
o Grande: Um túmulo basta agora para aquele que não bastava a Russia inteira. Com relação ao assunto domestico que tem dominado a mídia sobre a gatunagem do genocida em relação as jóias, nunca é demais lembrar que o propalado valor é menor 2500 vezes do que o rombo que os três milionários das Lojas Americanas subtraiu do povo brasileiro. O orçamento secreto de bolsonaro e agora do lula também comporta este valor n vezes. Então, justiça ampla e irrestrita.
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