domingo, 6 de agosto de 2023

José Roberto Mendonça de Barros* - É bom calibrar o otimismo

O Estado de S. Paulo

Será indispensável reduzir a lista de exceções criadas na reforma tributária aprovada na Câmara

O Brasil não é, definitivamente, para principiantes. No início do ano, boa parte dos observadores e analistas atribuíam ao novo governo uma boa dose de força política, decorrente da eleição e de ter sobrevivido bem aos acontecimentos de 8 de janeiro. Mas viam também fraqueza do ponto de vista econômico, já que apontavam como provável a volta da heterodoxia e do fantasma de uma recessão como a que vivemos entre 2014 e 2016.

Passados seis meses, vemos um governo fraco no Congresso, mas forte na economia, com a consolidação de uma visão surpreendentemente otimista.

Queda consistente da inflação, melhora no desempenho econômico, aprovação de projetos importantes e evolução na perspectiva da nota do País foram os eventos mais relevantes para entender essa visão mais positiva que passou a predominar.

Entretanto, é essencial ter presente que o segundo semestre será bem desafiante. A atividade econômica deverá desacelerar lentamente, especialmente no terceiro trimestre, dadas as dificuldades do mercado de crédito para as empresas, elevadas pelas cinzentas expectativas quanto ao desenlace do caso Americanas e de outras RJs, e pelo fraco desempenho da manufatura e do comércio.

Também está ficando claro que o governo não conseguirá elevar a arrecadação no montante necessário para zerar o déficit primário em 2024, mantendo a questão fiscal incerta.

Finalmente, será indispensável reduzir a lista de exceções criadas na reforma tributária, pois, como mostrou recente trabalho do Ipea, a alíquota geral teria de ser superior a 25%, algo inaceitável pela sociedade.

Dois fatores, por outro lado, serão favoráveis a um melhor desempenho na economia: o promissor início de redução da Selic e os programas do tipo Desenrola.

No caso dos juros, o efeito sobre o crédito de capital de giro só será significativo daqui a alguns meses, especialmente no que tange às companhias mais endividadas e às médias e pequenas.

Quanto ao Desenrola e outros, creio que poderão ser um sucesso. Boa parte dos brasileiros tem familiaridade com plataformas e querem renegociar. Os bancos também querem, inclusive para acionar créditos tributários. O mesmo vale para empresas comerciais. O consumidor deverá receber o 13.º salário numa situação financeira mais leve, podendo até retornar ao consumo.

Dá para continuar otimista, mas sem comprar o exagero. 

* * * * *

Os preços dos combustíveis seguem agora uma regra tipo “la garantia soy yo”, e estão abrindo um rombo nos moldes do governo Dilma.

O “sucesso” será garantido.

*ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS

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