O Estado de S. Paulo
Será indispensável reduzir a lista de exceções criadas na reforma tributária aprovada na Câmara
O Brasil não é, definitivamente, para
principiantes. No início do ano, boa parte dos observadores e analistas
atribuíam ao novo governo uma boa dose de força política, decorrente da eleição
e de ter sobrevivido bem aos acontecimentos de 8 de janeiro. Mas viam também
fraqueza do ponto de vista econômico, já que apontavam como provável a volta da
heterodoxia e do fantasma de uma recessão como a que vivemos entre 2014 e 2016.
Passados seis meses, vemos um governo fraco
no Congresso, mas forte na economia, com a consolidação de uma visão
surpreendentemente otimista.
Queda consistente da inflação, melhora no desempenho econômico, aprovação de projetos importantes e evolução na perspectiva da nota do País foram os eventos mais relevantes para entender essa visão mais positiva que passou a predominar.
Entretanto, é essencial ter presente que o
segundo semestre será bem desafiante. A atividade econômica deverá desacelerar
lentamente, especialmente no terceiro trimestre, dadas as dificuldades do
mercado de crédito para as empresas, elevadas pelas cinzentas expectativas
quanto ao desenlace do caso Americanas e de outras RJs, e pelo fraco desempenho
da manufatura e do comércio.
Também está ficando claro que o governo não
conseguirá elevar a arrecadação no montante necessário para zerar o déficit
primário em 2024, mantendo a questão fiscal incerta.
Finalmente, será indispensável reduzir a
lista de exceções criadas na reforma tributária, pois, como mostrou recente
trabalho do Ipea, a alíquota geral teria de ser superior a 25%, algo
inaceitável pela sociedade.
Dois fatores, por outro lado, serão
favoráveis a um melhor desempenho na economia: o promissor início de redução da
Selic e os programas do tipo Desenrola.
No caso dos juros, o efeito sobre o crédito
de capital de giro só será significativo daqui a alguns meses, especialmente no
que tange às companhias mais endividadas e às médias e pequenas.
Quanto ao Desenrola e outros, creio que
poderão ser um sucesso. Boa parte dos brasileiros tem familiaridade com
plataformas e querem renegociar. Os bancos também querem, inclusive para
acionar créditos tributários. O mesmo vale para empresas comerciais. O
consumidor deverá receber o 13.º salário numa situação financeira mais leve,
podendo até retornar ao consumo.
Dá para continuar otimista, mas sem comprar o exagero.
* * * * *
Os preços dos combustíveis seguem agora uma
regra tipo “la garantia soy yo”, e estão abrindo um rombo nos moldes do governo
Dilma.
O “sucesso” será garantido.
*ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS
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