O Globo
Sigla criada por Getulio Vargas sobreviveu a
golpe em Jango e rasteira em Brizola. Depois de aderir ao bolsonarismo, foi
extinta na quinta-feira num enterro sem lágimas
O TSE aprovou na quinta-feira a extinção do
Partido Trabalhista Brasileiro. A legenda histórica se fundiu ao Patriota. Foi
a terceira morte do PTB, que transitou do populismo de Getulio Vargas ao
bolsonarismo aloprado de Roberto Jefferson.
O PTB nasceu em 1945 para organizar os
trabalhadores num partido de massas. Nas palavras de Getulio, sua missão era
servir de “anteparo entre os sindicatos e os comunistas”. Garantir direitos
para os empregados sem ameaçar as posses dos patrões.
A sigla pregava um ideário
nacional-desenvolvimentista. Defendia a justiça social e as leis trabalhistas
do Estado Novo. Seu programa falava em distribuição de renda, direito de greve
e reforma agrária. Tudo sob a liderança carismática de Getulio, que escolheu
João Goulart como herdeiro da máquina partidária.
O golpe de 1964 derrubou Jango e cassou seus principais aliados. No ano seguinte, a ditadura baixou o AI-2 e extinguiu os partidos políticos. Os petebistas que escaparam da degola migraram para o MDB, uma das duas siglas autorizadas a funcionar sob o regime dos generais.
Na transição democrática, Leonel Brizola
anunciou a refundação do PTB. Era o herdeiro legítimo do trabalhismo após a
morte de Jango no exílio. O ex-governador prometia retomar o “fio da história”
interrompido pelos militares. O plano foi frustrado pela Justiça Eleitoral, que
deu a legenda à ex-deputada Ivete Vargas, próxima ao general Golbery do Couto e
Silva.
A rasteira em Brizola foi a segunda morte do
PTB. Derrotado, ele convocou a imprensa e denunciou uma “sórdida manobra
governamental” para beneficiar “um pequeno grupo de oportunistas subservientes
ao poder”.
Brizola escreveu a sigla numa folha de papel
e o rasgou em pedaços, antes de cair em prantos diante das câmeras. No Jornal
do Brasil, o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu: “Vi um homem chorar
porque lhe negaram o direito de usar três letras do alfabeto para fins
políticos. Vi uma mulher beber champanha porque lhe deram esse direito negado
ao outro”.
Os brizolistas se reagruparam no PDT. Sem
identidade, os novos donos do PTB entregaram a legenda ao fisiologismo.
Apoiaram governos à direita e à esquerda em troca de cargos e vantagens. Em
2003, o partido passou às mãos de Roberto Jefferson. Ele deu as ordens até da
cadeia, após ser preso no escândalo do mensalão.
Nos últimos anos, o ex-deputado aderiu ao
bolsonarismo. A aliança com o capitão não freou o esvaziamento do partido. Em
2020, o PTB trocou as cores históricas pelo verde e amarelo e tentou se vender
como a “casa do conservador brasileiro”. A fantasia terminou com a candidatura
de um falso padre e a nova prisão de Jefferson após abrir fogo contra policiais
federais.
A terceira morte do PTB foi um enterro sem
lágrimas. O TSE levou seis minutos para aprovar sua fusão com o Patriota, cujo
maior feito foi lançar o dublê de bombeiro e pastor Cabo Daciolo. As duas
legendas darão lugar ao Partido Renovação Democrática. A nova sigla usará o
número 25, que pertenceu ao finado Democratas (ex-PFL, atual União Brasil). Mas
essa já é uma outra história.
Fahrenheit 451
O governo bolsonarista de Santa Catarina
mandou censurar livros das bibliotecas escolares. A ver se o próximo passo será
queimá-los em praça pública. Como diria o Verissimo, já deu certo em outros
países.
2 comentários:
Texto BRILHANTE! Parabéns ao colunista e ao blog que divulga seu trabalho! Como não lembrar o palhaço Kelmon no debate eleitoral, sendo desmascarado por Lula e pela senadora Soraya, e apontado como cúmplice de Bolsonaro... O padreco de festa junina!
Pois é,rs.
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