O Estado de S. Paulo
Mesmo com um cenário complexo, o comércio
exterior continuará a ser fonte de crescimento
Vivemos um período marcado por choques não
econômicos: pandemia, aquecimento global e grandes questões geopolíticas (EUA x
China e duas guerras).
Estamos em meio a uma revolução tecnológica,
acelerada pelo avanço da digitalização, na qual desponta a inteligência
artificial. Estamos também pressionados pela necessária transição energética em
direção a uma economia de baixo carbono.
Alguns efeitos já começam a aparecer nos
fluxos de investimento, com a queda da China como destino, e de comércio, onde
a corrente chinesa se dirige cada vez mais para os países em desenvolvimento.
Nessas condições, o Brasil, que está numa região de pouco interesse estratégico e é produtor confiável, tem de manter conversa com todos os países, pois pode se beneficiar do comércio externo.
Foi exatamente isso o que ocorreu no ano
corrente, quando uma safra e uma balança comercial agrícola recordes levaram à
primeira revisão para maior do crescimento do PIB em relação às projeções do
início desse exercício.
Mas não foi apenas nesse grupo de produtos
que houve melhoras, pois petróleo e minérios continuaram crescendo firmemente.
Assim, projetamos um saldo comercial da ordem de US$ 90 bilhões, valor inédito
e cuja magnitude deve se manter nos próximos anos, naturalmente ajustada pelas
condições de cada momento no curto prazo.
Mesmo com um cenário internacional complexo,
o comércio exterior continuará a ser fonte de crescimento. Nos próximos anos,
um novo grupo de produtos vai se incorporar a esse fluxo: materiais de baixo
carbono, como etanol C-negativo, SAF e hidrogênio verde.
O crescimento de 2023 deverá ser da ordem de
3%, pois devemos somar a resiliência do mercado de trabalho à política fiscal
expansionista e ao início da redução da queda da Selic.
A aprovação da reforma tributária no Senado
certamente reforçará expectativas mais construtivas. Esse cenário continuará a
ter como grande fragilidade nossa difícil situação fiscal. Sem resolver isso
não haverá crescimento sustentável.
Para 2024, o crescimento projetado será pior,
de 2%. Antes de tudo como decorrência do fenômeno do El Niño: se a safra
2023-24 for parecida com a deste ano já será muito bom.
O crescimento dos países desenvolvidos será
menor, por conta da política monetária. A sinalização do alívio de juros pode
vir no final do primeiro semestre e, se a guerra do Oriente Médio não escalar,
o petróleo deverá ter seus preços mais ou menos estáveis, pressionando menos a
inflação.
Assim, imaginamos que a Selic poderá chegar a
9,25%.
*Economista e sócio da MB Associados
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