O Globo
O caminho para o futuro exige uma economia
mais eficiente, a reforma tributária é um passo, mas no centro do projeto tem
que estar a sustentabilidade
A Reforma Tributária vai custar aos cofres
federais R$ 322 bilhões em dez anos, de 2025 a 2034, em transferência para os
estados e municípios, através dos fundos de desenvolvimento e o de compensação
dos incentivos. O custo continuará subindo até 2043, quando o valor depositado
no Fundo de Desenvolvimento Regional se estabiliza em R$ 60 bi por ano. Os
números parecem assustadores, mas as contas feitas por economistas do governo
são de que tudo será mais do que compensado pelas vantagens que virão da queda
da sonegação e da inadimplência e do crescimento do PIB e da arrecadação.
A Reforma Tributária abrirá um tempo novo nas relações dentro da economia. Com todos os seus defeitos, incluídos durante a tramitação no Congresso, a chance real que ela abre é de aumento da produtividade e eficiência. A sonegação tende a cair com o sistema de débito/crédito que passará a vigorar no lugar da cumulatividade de impostos. Quanto mais simples o sistema, menor é o espaço para a divergência de interpretação e, portanto, de litígio. As concessões feitas são muitas, mas é ainda menos do que se tem hoje. Só o PIS/Cofins tem 70 alíquotas diferentes e 40 regimes especiais. No ICMS, cada estado tem, em média, 50 regimes especiais.
O que o Brasil sonha diante da Reforma
Tributária é com uma economia mais moderna, que enterre as obsolescências do
atual sistema de tributação do consumo, que vêm do século passado. Esse olhar
para o futuro faz várias outras exigências. O governo anunciou que o
desmatamento teve queda maior do que a esperada este ano, numa inversão forte
da curva herdada do governo anterior, no dia seguinte ao da aprovação da
Reforma Tributária no Senado. É, sem dúvida, outro dos avanços do país.
Entrevistei na GloboNews o ex-presidente do Banco Central e atual presidente do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Ilan Goldfajn. Ele me disse que,
hoje, a questão ambiental no banco não é mais assunto delegado a um
departamento. É “mainstream”, ou seja, está no centro das atividades.
—Em relação à preservação da natureza não tem
um projeto nosso, que passe no nosso conselho, que não tenha preocupação com a
sustentabilidade. Isso é condição. Quando vai se discutir o financiamento de
uma rodovia as primeiras perguntas são: tem que desmatar? Tem que deslocar
alguma comunidade indígena?
Perguntei se o BID financiaria a exploração
de petróleo na Amazônia e ele respondeu que nem o BID, nem qualquer outro banco
multilateral financia projeto de petróleo hoje em dia. Nenhum projeto. Por
outro lado, na visão do presidente do BID, o Brasil — e a América Latina — como
um todo, está diante de um ponto de inflexão, uma “oportunidade histórica”.
— Na minha percepção, o mundo precisa da
América Latina. Primeiro, não dá para fazer a transição energética sem a
América Latina. A matriz energética é mais limpa e a região pode exportar essa
energia. Eu não estou falando em teoria. O acordo entre o Chile e a Alemanha
foi de 20 anos. Segundo, com a guerra da Rússia e Ucrânia ficou evidente a
insegurança alimentar. E quem hoje exporta 40% do alimento mundial? A América
Latina. Terceiro, não se pode falar em preservação da natureza, da
biodiversidade sem a Amazônia, sem a Mata Atlântica, sem todos os nossos
biomas.
A entrevista com Ilan foi na semana em que o
Senado, que é casa da Federação, aprovou a Reforma Tributária e em que o
governo anunciou uma queda de 22,3% no desmatamento. Mas este é, na verdade, um
feito ainda maior do que parece porque na contabilidade do ano de 2023 há seis
meses do desmatamento do governo Bolsonaro. O ano para efeito do monitoramento
do desmatamento vai de agosto a julho. Mesmo com 6 mil km² já desmatados na
administração anterior, o atual governo conseguiu conter em 9 mil km². A queda
foi, portanto, de 42%.
O avanço para o futuro tem várias exigências,
uma delas é livrar-se do manicômio tributário. Outra é colocar a
sustentabilidade como centro das políticas públicas. A moeda de troca da
Reforma Tributária não pode ser a leniência com a pauta retrógrada da bancada
ruralista. As oportunidades para um país como o Brasil são muitas neste momento
histórico. A agenda certa combina as reformas necessárias, o aumento da
produção e da produtividade, e o respeito à sustentabilidade ambiental. Ninguém
se moderniza pela metade.
Um comentário:
Verdade.
Postar um comentário