Folha de S. Paulo
Petista usou oportunidade para pôr de pé um
governo normal e terá um sarrafo mais alto pela frente
Lula tirou
bom proveito do que pode se chamar de "bônus do retrovisor" neste
primeiro ano. A decisão de interromper algumas das políticas mais destrutivas
de Bolsonaro rendeu
pontos logo de saída. O contraste também ofereceu a oportunidade de pôr para
rodar uma gestão com pé e cabeça. Este é o governo que será julgado ao fim do
mandato.
O meio ambiente, a diplomacia e outras áreas foram retiradas da zona de influência dos rancores da extrema direita. A transição para a normalidade fez com que um presidente pudesse ser cobrado por seus compromissos de preservação, por suas alianças internacionais e pelos resultados das escolhas feitas fora do campo das teorias conspiratórias.
A recuperação de uma agenda social fez com
que o assunto deixasse de ser só uma ferramenta periférica para dar
estabilidade ao governo. Houve até gente no Congresso preocupada com os custos
dessa rede de proteção, apesar de ter ajudado o último presidente a arrombar o
cofre para bancar um pacotão eleitoral.
Após quatro anos de preparação golpista e o
ataque de 8 de janeiro, estabeleceu-se um governo que admitiu se submeter aos
contrapesos de um Congresso conservador, sem convocar manifestações
por um novo AI-5. Pelo lado negativo, buscou conforto num abraço reprovável
com o Supremo e cedeu a uma acomodação exigida pelos generais.
Já o ônus de um governo considerado normal é
um sarrafo mais alto. O efeito de comparação tem duração limitada, surgem menos
maluquices para distrair o eleitor e há uma cobrança maior por resultados
concretos. Não planejar golpe, não ameaçar tribunais, não detonar vacinas e não
destruir a reputação do país conta muito, mas é insuficiente.
O verdadeiro desafio do terceiro governo Lula
nem começou. Será preciso manter um equilíbrio na economia, tocar reformas na
educação e na saúde além da correção de rumos, encontrar uma política racional
para a segurança pública e, também, asfixiar os riscos de corrupção numa
máquina inchada.
2 comentários:
Exato.
Perfeito!
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