quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Raul Jungmann* - Segurança mineral

O Globo

Não existe solução de energia limpa que não demande minerais críticos para a sua concretização

Qualquer nação que almeje a sustentabilidade para proporcionar qualidade de vida a seus cidadãos necessita de alto nível de “segurança” em vários campos, a exemplo da segurança alimentar, energética, econômica, tecnológica, climática. Esta última enseja outra modalidade, a que chamo de segurança mineral. É a garantia decisiva para a continuidade da transição a uma economia de baixo carbono visando à superação da emergência climática, já que não existe solução de energia limpa que não demande minerais críticos para sua concretização.

A energia fotovoltaica requer muito cobre; a energia eólica, ferro; uma turbina eólica exige duas toneladas de minerais chamados “terras raras”; as redes de eletricidade precisam de grande oferta de cobre e alumínio. A eletrificação dos transportes deverá impulsionar a demanda por lítio em 965% até 2050 — além disso, um veículo elétrico necessita de 2,4 vezes mais cobre e 2,2 vezes mais manganês e dezenas de quilos de minérios não vistos no veículo tradicional, como níquel, lítio, grafita e cobalto, de acordo com a Agência Internacional de Energia.

Banco Mundial calcula que a energia verde consumirá mais de 3 bilhões de toneladas de minerais críticos e estratégicos até 2050. O Brasil precisa elaborar, com urgência, políticas públicas voltadas à segurança mineral e aproveitar essa janela de oportunidades. Esse plano tem de estar interconectado aos interesses globais. Sem o apoio de uma política de Estado ou de um mercado estruturado, o setor privado terá dificuldades para investir com ênfase na produção de minerais críticos.

Essa política pública de segurança mineral deve abordar iniciativas para o conhecimento geológico; alternativas para o financiamento de projetos e para o processamento de minerais críticos; estímulo à inovação; mecanismos de licenciamento rigorosos, porém bem mais dinâmicos. São algumas direções para que o Brasil seja um participante ativo na geopolítica dos minerais críticos.

Também é preciso considerar que: as atuais minas não atenderão à crescente demanda por minerais críticos; tornar uma nova jazida economicamente viável pode levar cerca de dez anos; alguns países concentram a maior parte da produção de determinados minerais; o ritmo de aceleração da transição depende da competência dos países em inaugurar novos projetos minerais.

O mundo vivencia uma situação desconfortável em termos de alta volatilidade nos riscos de suprimento de itens estratégicos e essenciais, como grãos, chips, petróleo e derivados, gás, minérios e fertilizantes. Assim, governos e empresas querem novos fornecedores para reduzir sua exposição aos riscos de desabastecimento e de alta variação de preços. Sanções do Ocidente contra a Rússia, em 2022, motivaram salto de US$ 100 mil no preço da tonelada do níquel, em poucos minutos, na Bolsa de Londres.

Em mineração, o Brasil está situado entre os principais players, e sua evolução nesse setor depende do reconhecimento público de sua importância estratégica para auxiliar o país a ocupar um lugar melhor no cenário socioambiental e econômico mundial. Aplica, cada vez mais, boas práticas ESG — sigla para ações relacionadas à sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e excelência em governança —; ocupa baixa parcela de território; apresenta importantes contribuições ao PIB, entre outros benefícios.

Obviamente, não se deve ignorar que a mineração gera impactos, como acontece com outros setores produtivos. A questão não é se os fins justificam os meios. O que deve prevalecer é o compromisso de buscar a segurança mineral tendo como princípio a sustentabilidade ambiental e o compromisso com a questão social, tendo em conta que, no Brasil, a mineração é um agente propulsor do desenvolvimento socioeconômico local e nacional.

*Raul Jungmann é diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineraçã

Um comentário:

Daniel disse...

Texto muito informativo e importante!