O Globo
Não existe solução de energia limpa que não demande minerais críticos para a sua concretização
Qualquer nação que almeje a sustentabilidade
para proporcionar qualidade de vida a seus cidadãos necessita de alto nível de
“segurança” em vários campos, a exemplo da segurança alimentar, energética,
econômica, tecnológica, climática. Esta última enseja outra modalidade, a que
chamo de segurança mineral. É a garantia decisiva para a continuidade da
transição a uma economia de baixo carbono visando à superação da emergência
climática, já que não existe solução de energia limpa que não demande minerais
críticos para sua concretização.
A energia fotovoltaica requer muito cobre; a energia eólica, ferro; uma turbina eólica exige duas toneladas de minerais chamados “terras raras”; as redes de eletricidade precisam de grande oferta de cobre e alumínio. A eletrificação dos transportes deverá impulsionar a demanda por lítio em 965% até 2050 — além disso, um veículo elétrico necessita de 2,4 vezes mais cobre e 2,2 vezes mais manganês e dezenas de quilos de minérios não vistos no veículo tradicional, como níquel, lítio, grafita e cobalto, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
O Banco
Mundial calcula que a energia verde consumirá mais de 3 bilhões de
toneladas de minerais críticos e estratégicos até 2050. O Brasil precisa
elaborar, com urgência, políticas públicas voltadas à segurança mineral e
aproveitar essa janela de oportunidades. Esse plano tem de estar interconectado
aos interesses globais. Sem o apoio de uma política de Estado ou de um mercado
estruturado, o setor privado terá dificuldades para investir com ênfase na
produção de minerais críticos.
Essa política pública de segurança mineral
deve abordar iniciativas para o conhecimento geológico; alternativas para o
financiamento de projetos e para o processamento de minerais críticos; estímulo
à inovação; mecanismos de licenciamento rigorosos, porém bem mais dinâmicos.
São algumas direções para que o Brasil seja um participante ativo na
geopolítica dos minerais críticos.
Também é preciso considerar que: as atuais
minas não atenderão à crescente demanda por minerais críticos; tornar uma nova
jazida economicamente viável pode levar cerca de dez anos; alguns países
concentram a maior parte da produção de determinados minerais; o ritmo de
aceleração da transição depende da competência dos países em inaugurar novos
projetos minerais.
O mundo vivencia uma situação desconfortável
em termos de alta volatilidade nos riscos de suprimento de itens estratégicos e
essenciais, como grãos, chips, petróleo e derivados, gás, minérios e
fertilizantes. Assim, governos e empresas querem novos fornecedores para
reduzir sua exposição aos riscos de desabastecimento e de alta variação de
preços. Sanções do Ocidente contra a Rússia, em 2022,
motivaram salto de US$ 100 mil no preço da tonelada do níquel, em poucos
minutos, na Bolsa de Londres.
Em mineração, o Brasil está situado entre os
principais players, e sua evolução nesse setor depende do reconhecimento
público de sua importância estratégica para auxiliar o país a ocupar um lugar
melhor no cenário socioambiental e econômico mundial. Aplica, cada vez mais,
boas práticas ESG —
sigla para ações relacionadas à sustentabilidade ambiental, responsabilidade
social e excelência em governança —; ocupa baixa parcela de território;
apresenta importantes contribuições ao PIB, entre outros benefícios.
Obviamente, não se deve ignorar que a
mineração gera impactos, como acontece com outros setores produtivos. A questão
não é se os fins justificam os meios. O que deve prevalecer é o compromisso de
buscar a segurança mineral tendo como princípio a sustentabilidade ambiental e
o compromisso com a questão social, tendo em conta que, no Brasil, a mineração
é um agente propulsor do desenvolvimento socioeconômico local e nacional.
*Raul Jungmann é diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineraçã
Um comentário:
Texto muito informativo e importante!
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