O Globo
A crueldade dos dirigentes israelenses
(muitos dos quais defendem a expulsão dos palestinos de Gaza) horroriza o mundo
e larga parte das comunidades judaicas fora de Israel
O chef espanhol José Andrés, fundador da
World Central Kitchen (WCK), especializada em distribuir ajuda alimentar a
vítimas de conflitos armados, acusou o Exército israelense de ter assassinado
deliberadamente sete funcionários da organização. Segundo Andrés, o atual
governo de Israel trava
uma guerra contra a Humanidade.
Andrés não é a única pessoa a pensar assim.
Um pouco por todo o mundo cresce a percepção de que Israel está em vias de se
transformar num estado terrorista.
Nos últimos dias, além do assassinato dos funcionários da WCK, Israel atacou a embaixada iraniana em Damasco, causando 11 mortes. Por outro lado, em mais uma manobra que confirma a deriva totalitária em curso, o Knesset, parlamento israelense, aprovou legislação que visa a silenciar a Al-Jazeera e outros canais noticiosos internacionais críticos do regime. Tudo isto enquanto prossegue a matança em Gaza.
Mais tarde ou mais cedo, a pressão interna e
externa culminará no afastamento de Benjamin Netanyahu e do seu governo
extremista. A grande questão não é saber se o primeiro-ministro cairá, mas
quando. Muito mais importante: quem o substituirá?
Dezenas de milhares de judeus israelenses que
vêm exigindo nas ruas a saída de Netanyahu não parecem muito incomodados com o
dramático destino da população palestina.
Os judeus israelenses estão zangados com o atual governo porque este não foi
capaz de prever e de se antecipar ao ataque terrorista do Hamas, a 7 de outubro
de 2023. Estão zangados porque Netanyahu é indiferente ao destino dos reféns.
Estão zangados com a incompetência política, diplomática e militar dos seus
governantes, que não conseguem nem eliminar o Hamas, nem contrariar o processo
de isolamento do país.
A crueldade e a arrogância dos dirigentes
israelenses — muitos dos quais defendem, sem o menor vestígio de vergonha, a
expulsão dos palestinos de Gaza — horrorizam o mundo, e uma larga parte das
comunidades judaicas fora de Israel. Contudo, dentro das fronteiras do país são
raras as vozes judias que se erguem para se solidarizar com o sofrimento do
povo palestino.
Aprendi a amar Israel através da sua
literatura, lendo as obras de escritores lúcidos e corajosos, capazes de olhar
o outro, como quem se olha ao espelho, e de erguer pontes de afeto e de empatia
entre as diferentes comunidades. Não sei onde estão agora esses escritores. Não
sei onde estão as pessoas, os movimentos, as instituições, que possam servir de
referência moral, em meio à tempestade de ódio e de bruta irracionalidade que
varre o país.
Sim, Netanyahu cairá. Já está caindo. Cairão
com ele, muito provavelmente, algumas das personalidades mais repugnantes que
constituem o atual governo israelense. Nessa altura, ficaremos a conhecer todo
o horror em curso na Faixa de Gaza.
O pouco que sabemos hoje já nos permite intuir a imensidão do desastre. Israel
levará gerações para reconquistar a simpatia do mundo.
Este é o vaticínio otimista. Implicaria uma
insurgência pacifista, um amplo movimento de reflexão da sociedade civil
israelense, que se atrevesse a colocar em causa muitos dos fundamentos do
próprio estado de Israel. Infelizmente, não vejo sinais de que essa insurgência
venha algum dia a emergir.
2 comentários:
Muito bom! Quando até O Globo publica um artigo criticando e reconhecendo os CRIMES DE GUERRA cometidos por Israel desde o final do ano passado, é porque a situação em Gaza já passou de qualquer limite razoável HÁ MUITO TEMPO, como o governo brasileiro e Lula têm afirmado desde o início. Tanto que a ONU e seu Conselho de Segurança já cobram o fim dos combates, e hoje até os EUA e os governos europeus já criticam o SANGUINÁRIO governo israelense e as forças armadas do país.
Mais de 33 MIL PALESTINOS ASSASSINADOS, sendo mais de 10 MIL CRIANÇAS PALESTINAS totalmente inocentes, e mais de 10 MIL MULHERES PALESTINAS igualmente sem qualquer envolvimento com armas ou combates, por um governo CRIMINOSO que comanda um ESTADO TERRORISTA, que espalha terror sobre milhões de palestinos, a IMENSA MAIORIA desarmada e sem envolvimento com o Hamas.
Um horror sem fim!
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