Folha de S. Paulo
Brasil ainda não abraçou integralmente o
liberalismo, o que explica atraso no reconhecimento de direitos
Uma das primeiras providências do Taleban depois que retomou o poder no Afeganistão foi recriar o Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício. O nome vistoso não esconde a verdadeira natureza do braço estatal encarregado de impor, pela violência, se necessário, os padrões de comportamento favorecidos pelos governantes.
O moralismo é uma tentação para dirigentes
políticos. Trata-se, afinal, de uma força que unifica um bom pedaço da
população e gera aplausos fáceis. Se é verdade que parte das regras morais tem
base fática e racional –abusar de bebida ou de drogas faz mal à saúde e causa
danos sociais--, outra parte é mera cristalização de caprichos históricos. É
difícil encontrar boas justificativas para o veto do Taleban à música e às
pipas. Em qualquer caso, a imposição a ferro e fogo da moralidade aceita causa
grande sofrimento às pessoas que não querem ou não podem se dobrar ao cânone.
No Ocidente, depois de séculos de abusos,
firmou-se o princípio de que é melhor deixar que cada indivíduo estabeleça seus
próprios limites, desde que a prática não traga perigos imediatos a terceiros.
Prejuízos sociais mais difusos podem ser modulados, ainda que não eliminados,
por uma combinação de regulação e desestímulos fiscais. Na maioria dos países
avançados existem restrições à venda de álcool para menores, por exemplo, e
produtos com externalidades negativas tendem a ser sobretaxados para compensar danos.
O Brasil não é um Afeganistão, mas ainda não abraçou inteiramente o liberalismo ocidental. O moralismo muitas vezes ainda
dá as cartas. É o que explica nosso atraso secular para reconhecer direitos já
há um bom tempo consolidados na Europa, como o aborto e a
descriminalização do consumo de drogas. Enquanto ali países já vão legalizando
a eutanásia, por aqui ainda é difícil fazer com que a autonomia do paciente
seja respeitada quando ela pode levar à morte.
Um comentário:
Um moralismo caolho,digamos e,com todo respeito aos estrábicos,rs.
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