quarta-feira, 31 de julho de 2024

Martin Wolf - Ingenuidade sobre Trump ameaça o futuro

Valor Econômico

Os plutocratas precisam entender que riqueza só é uma fonte de poder se estiver protegida por um Estado governado por leis

Em 1999, o falecido Boris Berezovsky almoçou com o editor e jornalistas veteranos do Financial Times. Eu já o tinha encontrado em Moscou, em várias ocasiões. Berezovsky acabara de ter um papel de destaque em convencer os que eram próximos a Boris Yeltsin a nomear Vladimir Putin para ser primeiro-ministro e seu sucessor como presidente. Putin (que Berezovsky conhecera na época em que ele foi vice-prefeito de São Petersburgo) era então chefe do FSB, o serviço de segurança da Rússia. “Por que você confiou poder a um ex-agente da KGB?”, perguntei. E sua resposta ficou na minha memória: “A Rússia agora é um país capitalista. Em países capitalistas, os capitalistas detêm o poder”.

Meu queixo caiu, metaforicamente. Berezovsky era um homem inteligente, implacável e cínico, que passou grande parte de sua vida na União Soviética. Ele também era um russo que conhecia a história brutal da Rússia. E no entanto Berezovsky parecia acreditar na baboseira marxista sobre com quem o poder ficaria na Rússia supostamente “capitalista”. Claro, ele estava errado. O poder estava nas mãos do homem no Kremlin, onde sempre esteve. Talvez eu seja muito duro com ele. Os líderes ocidentais parecem acreditar que as sanções contra os oligarcas russos podem influenciar Putin. Não tenho ideia de por quê.

Em todo caso, um ano depois de Putin chegar ao poder, Berezovsky, que se tornara um crítico severo, foi expulso da Rússia para o Reino Unido. Em 2013, ele morreu - ou se suicidou ou foi assassinado.

A reeleição de Trump terá implicações mundiais. O dano causado à credibilidade da democracia já é considerável: a confiança se deteriorou não apenas na democracia dos Estados Unidos, mas na própria ideia de democracia. Isso vai piorar

O destino de Berezovsky diz algo importante. A riqueza é uma fonte de poder se e apenas se estiver protegida por um Estado governado por leis. Sob o despotismo, o poder dá riqueza. É o brinquedo do tirano: ele pode dar, mas também pode tirar.

Os Estados Unidos não são a Rússia. Donald Trump não é Putin. Ainda assim, Trump já deixou claro que gostaria de usar o cargo de presidente para punir seus inimigos. De fato, ele se referiu especificamente à ex-deputada Liz Cheney, ao presidente Joe Biden e à vice-presidente Kamala Harris como seus alvos. Sua “justificativa” é o que vê como uma perseguição contra ele. Mas Trump realmente tentou anular os resultados da eleição presidencial de 2020, ao encorajar uma invasão do Capitólio por “patriotas” em 6 de janeiro de 2021 e pressionar o vice-presidente Mike Pence a não validar os resultados. A Grande Mentira de uma eleição roubada se tornou até uma crença comum do Partido Republicano.

A questão que se coloca é: os oligarcas que tentam tornar Trump presidente e J. D. Vance vice-presidente, este último um homem que declarou que não validaria aquela eleição, estão a ponto de aprender o que significa ter um tirano como presidente? Sim, alguém que tenta um golpe contra o processo eleitoral - o próprio âmago da democracia - é um aspirante a tirano. Assim como é alguém que pode encher seu governo com pessoas leais a ele pessoalmente. Ninguém, então, pode estar realmente a salvo, a não ser os que são leais ao regime e os bajuladores.

Em outras ocasiões, o poder do presidente dos EUA era contido por uma forte moralidade cívica, pela decência de suas figuras políticas mais graduadas, por um Judiciário independente e por partidos políticos independentes. Mas muito disso tem sido desgastado.

Considerando todos esses pontos, a reeleição de Trump terá implicações mundiais. O dano causado à credibilidade da democracia já é considerável: a confiança se deteriorou não apenas na democracia dos EUA, mas na própria ideia de democracia. Isso vai piorar.

A democracia liberal nos EUA não é tudo o que está em jogo. Também está o futuro dos EUA no mundo. Não parece ter ocorrido à nova direita americana que abandonar a Ucrânia e possivelmente membros atuais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para a Rússia afetará a capacidade dos EUA de fazer alianças contra a China. Se eu fosse japonês, me sentiria nervoso.

Também não lhes ocorreu, ao que parece, que renegar os acordos comerciais que os próprios EUA ajudaram a criar, inclusive a Organização Mundial do Comércio (OMC), fará inevitavelmente que o país pareça um parceiro econômico em que não se pode confiar. Trump, o empresário, tem se caracterizado por falências em série. Os EUA não manterão sua credibilidade como um ator econômico se for assim que se comportarem.

Depois, há o Trump que acredita não apenas em tarifas altas, mas em cortes de impostos para os ricos e em um dólar fraco. Ele também acredita, quando conveniente, em taxas de juro baixas, e não acredita na independência do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). A ideia de que é possível, de maneira simultânea, apoiar um aumento enorme nos custos das importações, por meio de tarifas, o que reduziria a demanda dos EUA por moeda estrangeira, e esperar que ao mesmo tempo o dólar caia de valor em relação a essas mesmas moedas é incoerente. O normal é que acontecesse o contrário. Mas se o déficit fiscal, que já é grande, fosse expandido ainda mais e o Fed fosse coagido a relaxar a política monetária, o dólar poderia de fato quebrar, como nos anos 1970. Isso seria uma grande encrenca.

O mais importante de tudo para o futuro do mundo pode não ser Trump, o aspirante a tirano, Trump, o traidor, Trump, o protecionista ou Trump, o desvalorizador, mas Trump, o homem que tirou os EUA do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas quando era presidente. Neste momento, temos uma chance muito pequena de manter em menos de 1,5 grau centígrado o aumento das temperaturas mundiais acima dos níveis pré-industriais. Se outro mandato de Trump sabotasse as esperanças de avanço, essa chance quase com certeza desapareceria, com possíveis consequências desastrosas.

Mas Trump, o “gênio muito estável”, simplesmente “sabe” que o efeito estufa é um embuste. Na verdade ele é uma ameaça, mas uma que ainda podemos, por pouco, derrotar. Trump pode ser o líder que garantirá o fracasso.

Os plutocratas que apoiam Trump podem continuar mais seguros do que Berezovsky. Mas eles podem realmente ser tão livres quanto querem? Sim, uma deterioração adicional da democracia pode protegê-los da interferência dos políticos eleitos que eles detestam. Mas os homens que eles põem no poder em seu lugar têm uma tendência a se transformarem em governantes absolutos. Ninguém pode então estar a salvo de verdade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quanta imaginação e quanta narrativa Delirante sobre o futuro dos Estados Unidos com a presidência do Trump
O Trump governou Estados Unidos e o país melhorou
Conseguiu diminuir as tensões mundiais com a acordos de paz sem precedentes no Oriente Médio e promoveu progresso do país
A esquerda mundial está com medo porque sabe que todo o apoio dos Estados Unidos pras pautas identitárias e apoio as ditaduras Rússia e China cairão por terra

Anônimo disse...

Quanta baboseira ...nada escoimado em dados...apenas uma opinião de um sujeito qualquer fora do esquadro e do mínimo de informação, carregado em mitos e fantasias nos quais acredita...não sabe o que o espera do outro lado...

marcos disse...

dois anônimos FDP² e bastardos. MAM