quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Bernardo Mello Franco – O apagão e a urna

O Globo

Candidato do PSOL usa crise para carimbar prefeito como fraco e omisso; pesquisas dirão se ofensiva ainda pode reabrir a disputa

Na semana passada, aliados de Guilherme Boulos admitiam que só um fato novo seria capaz de ameaçar a reeleição de Ricardo Nunes em São Paulo. O imponderável pode ter dado as caras na noite de sexta, quando um temporal deixou a cidade às escuras.

A chuvarada durou menos de uma hora, mas causou transtornos prolongados. No pico do apagão, 2,1 milhões de imóveis ficaram sem luz. O blecaute se estendeu pelo fim de semana, prejudicando centenas de milhares de paulistanos. Era inevitável que o tema dominasse o primeiro debate do segundo turno, marcado para segunda-feira.

“Fiquei sem luz na minha casa até ontem”, iniciou Boulos. “Esse apagão tem dois grandes responsáveis”, prosseguiu. “A cidade está refém dessas duas incompetências: a Enel e o prefeito”, arrematou. Nunes começou desconversando sobre “a questão das mudanças climáticas”. Depois classificou o blecaute como “algo muito triste, que deixa a gente profundamente magoado”. Finalmente, tentou empurrar a responsabilidade para o governo federal.

“Você não faz poda de árvore e o culpado é o Lula?”, reagiu o candidato do PSOL. A discussão se esticou por 22 minutos, no horário de maior audiência do debate. Boulos buscou carimbar Nunes como um político fraco e vacilante, que se omite os momentos de crise. O prefeito ficou na defensiva e se escorou atrás do púlpito, enquanto o rival caminhava com desenvoltura pelo palco da Band.

Os dois só concordaram nas críticas à Enel, que se apresenta na internet como uma empresa “inovadora e sustentável”, empenhada em “levar progresso às pessoas”. Esse blá-blá-blá corporativo não livrou a maior cidade do país de sofrer três grandes apagões num intervalo de apenas 11 meses. Na sexta, havia mais gente sem luz em São Paulo do que na Flórida pós-furacão Milton.

As próximas pesquisas dirão se o blecaute pode alterar os rumos de uma eleição que já parecia decidida. Na dúvida, Nunes tem obedecido aos manuais de gestão de crise: vestiu um colete laranja da Defesa Civil e passou a dar plantão permanente nas ruas. Sempre na mira de uma câmera para abastecer as redes sociais.

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