quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Vera Rosa - De onde vem a ideia de colocar Lira no governo

O Estado de S. Paulo

Lula joga culpa por falta de votos no PT e desconversa sempre sobre reforma ministerial

A ideia de ter o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no comando de um ministério em 2025, quando começa a segunda metade do governo, foi levada ao gabinete do presidente Lula bem antes do primeiro turno das eleições municipais. Alvo de críticas da “esquerda” do PT, a proposta tem a simpatia de ministros do Supremo Tribunal Federal – alguns deles defensores do semipresidencialismo – e ganhou força após o mau desempenho de petistas nas urnas.

Na prática, nada garante o apoio do Centrão a Lula nas eleições de 2026. Mas o grupo, que tem um pé na canoa do governo, com ministérios na Esplanada, e outro no barco do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inelegível até 2030, deixa a discussão rolar e faz cara de paisagem.

Enquanto isso, Lula joga a culpa pela falta de votos em candidatos do PT no próprio partido e despista sempre que é questionado sobre uma possível reforma ministerial. “Em time que está ganhando não se mexe”, desconversa.

Não foi à toa que o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT) defendeu a ideia de levar Lira para o governo, em entrevista ao Estadão. Um dos interlocutores de Lula, João Paulo não falou sozinho: expressou a preocupação da ala mais pragmática do PT e do Palácio do Planalto, que não sabe como enfrentar o avanço da direita e muito menos o fenômeno Pablo Marçal.

Mesmo filiado ao nanico PRTB, e sem tempo no horário eleitoral, o influenciador ficou em terceiro lugar na briga pela Prefeitura de São Paulo. Saiu avisando, porém, que 2026 é logo ali na esquina. Isso significa que, apesar de não aparecer mais, Marçal está entre nós. E há uma fenda na direita bolsonarista.

É nesse cenário que surge a proposta externada por João Paulo. Os defensores da articulação afirmam que, passadas as eleições para a presidência da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2025, Lira pode auxiliar Lula a juntar o dividido Centrão e a montar uma aliança estratégica em torno do petista para a disputa da reeleição, em 2026.

Com a experiência de quem vivenciou o escândalo do mensalão, João Paulo também diz que não se pode deixar derrotados no caminho após as eleições na Câmara. O Centrão, atualmente, tem vários pré-candidatos ao Planalto. Na lista estão os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Goiás, Ronaldo Caiado, além do “outsider” Marçal. Mas por que uma fatia do Centrão não tão bolsonarista assim ficaria com Lula?

Ninguém falou na vaga de vice até agora. O fato, porém, é que essa cadeira, hoje ocupada por Geraldo Alckmin (PSB), desperta muito interesse. E, até lá, outros ingredientes vão aparecer para apimentar ainda mais essa sopa de letrinhas.

 

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