Folha de S. Paulo
Ordem para investigar sistema de partilha de
emendas vai incomodar líderes do Congresso
Flávio Dino preparou
uma surpresa natalina para o centrão. Na segunda (23), em pleno recesso de fim
de ano, o ministro do STF mandou suspender o
pagamento das emendas que representam a principal moeda do
balcão de negócios do grupo. Foram bloqueados mais de R$ 4 bilhões. Como
brinde, a Polícia Federal deve abrir uma investigação sobre o uso político do
dinheiro.
O congelamento das emendas era uma questão de tempo. O tribunal já havia suspendido os pagamentos mais de uma vez, exigindo o mínimo de transparência na distribuição da verba. Os parlamentares descumpriram quase todas as decisões da corte, muitas vezes com apoio do governo e sempre à luz do dia.
Dino mandou um recado aos políticos.
Caracterizou a farra das emendas como sintoma de uma "degradação
institucional" e disse que a manutenção da partilha do dinheiro daquela
maneira configura um "inaceitável quadro de inconstitucionalidades em
série". Ele citou a "perseverante atuação" do STF, indicando que
não vai ceder a acordos para driblar as decisões do tribunal.
A grande novidade desse episódio da queda de
braço é o inquérito que será aberto por ordem de Dino. Nos últimos anos,
investigações feitas no varejo identificaram obras defeituosas, favorecimento
político e suspeitas de desvio de verba das emendas, em alguns casos envolvendo
os nomes de parlamentares. Agora, a PF vai atuar no atacado.
O foco do novo inquérito será a cúpula do
grupo que coordena a ocultação dos padrinhos das emendas e gerencia a
distribuição do dinheiro para aliados políticos. A polícia vai ouvir
parlamentares para mapear, por exemplo, os acordos que simularam a indicação da
verba que deveria estar reservada para as comissões do Congresso e que, na
verdade, passou a ser controlada por dirigentes do centrão.
Esse foi o acerto que concentrou poder nas
mãos de um consórcio que direcionava a remessa de emendas para políticos
aliados em troca de apoio. Nos últimos anos, essa partilha foi liderada
por Arthur Lira (PP-AL), na Câmara, e
por Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP),
no Senado.
Os times dos dois estarão, inevitavelmente, na mira do inquérito.
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