Na última semana, recorri a Paul Lafargue, Max Weber, Chaplin, Domenico Massi e Trotsky.
O que diz a Bíblia sobre o
trabalho? Em Tessalonicenses, 3:10-12 está lá: “Quando ainda estávamos com
vocês, nós ordenamos isto: se alguém não quiser trabalhar, também não coma”.
Trabalho não seria castigo, mas um dom de Deus”.
E Marx? Marx considerava o
trabalho uma dimensão essencial da vida humana, que permite transformar a
realidade, diferenciar o ser humano de outros seres da natureza e produzir
coisas para suprir suas necessidades. No entanto, identificava o processo de alienação
do trabalhador no capitalismo.
Seria ideal que todos nós trabalhássemos poucas horas diárias e no restante do tempo estivéssemos com a família e os amigos e déssemos vazão ao músico, futebolista, escritor, chef de cozinha, jogador de basquete ou xadrez, escultor ou pintor, que potencialmente há dentro de cada um de nós.
É preciso diferenciar. Há
trabalhos gratificantes. Há outros penosos. O prazer de um escritor ao terminar
um livro, de um chef que finalizou um prato ou de um jogador que fez um gol
definitivamente não é o mesmo de um metalúrgico que trabalha na boca de um
forno siderúrgico, de um funcionário da limpeza urbana ou de um motorista de
transporte coletivo numa metrópole. Ou de qualquer operário numa linha fordista
de produção. Há trabalhos e trabalhos. Motivações variadas: prazer e/ou
sobrevivência.
A PEC de Erika Hilton quer
mudar a Constituição que permite o regime de 6 dias de trabalho para um dia de
folga, com jornada semanal máxima de 44 horas, sendo 8 diárias no máximo, com a
possibilidade de 2 horas extras. Quer uma nova situação de 4 dias trabalhados por
semana e o máximo de 36 horas. Não há dúvidas que, para a felicidade de todos,
seria ótimo. Ocorre que não há almoço grátis. Tudo tem custo. São escolhas.
Segundo a Organização
Internacional do Trabalho os brasileiros trabalham em média 39 horas semanais. Pouco
mais que no EUA, Itália, França, Alemanha e Reino Unido. Menos que no Chile,
Colômbia e México. E bem menos que na Índia, 46,7, e China, 46,1 horas
semanais.
A proposta causou enorme
polêmica. Mas quantos serão os afetados? A força de trabalho no Brasil envolve
110,5 milhões de brasileiros, sendo que 6,8 milhões estão desempregados. Três
milhões, fora esses, são considerados desalentados, nem procuram mais emprego. Os
39% de trabalhadores informais não seriam afetados. Estamos falando dos
motoristas de UBER, entregadores do IFood ou ambulantes do comércio de rua.
É evidente que reduzir a carga de trabalho seria muito bom para a saúde, o prazer e a vida de todos. Acontece que somos ainda um país emergente, com renda per capita baixa, alta concentração de renda, produtividade baixíssima e graves problemas de competitividade econômica. Só o trabalho gera riqueza. E só a geração de riqueza pode produzir a possibilidade de entregarmos mais qualidade de vida ao povo. Uma coisa é reduzir a jornada de trabalho em um país rico e com alta produtividade. Outra muito diferente é fazê-lo em um país emergente relativamente pobre e cheio de desafios. Nada é proibido. São escolhas. Com seus ônus e bônus! Viva o direito à preguiça e ao ócio criativo! Mas viva também a luta para superar a pobreza e a miséria! E isso, infelizmente, dá trabalho.
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