O Brasil, a duras penas, vem avançando seu quadro institucional. Muito foi feito desde a redemocratização e o Plano Real. Há um esforço para deixar no passado o histórico de insegurança jurídica, quebra de contratos, moratórias, intervenções estatais arbitrárias, mudanças da regra do jogo com ele em andamento.
Uma
mudança institucional estratégica e fundamental foi a fixação da autonomia do
Banco Central, feita pela Lei Complementar 179/2021. Fixada a meta pelo
Conselho Monetário Nacional – hoje ela é de 3% ao ano – cabe à autoridade
monetária, de forma independente e técnica, conduzir a política monetária
manejando a taxa de juros e o câmbio, para o alcance do objetivo traçado. Os
mandatos dos diretores do BC passaram a ser fixos e não coincidentes, evitando
intervenções de cunho estritamente político.
Independente
da posição política e ideológica que se tenha, é preciso reconhecer a qualidade
e a consistência da atuação do primeiro presidente do BC após o estabelecimento
de sua autonomia. Roberto Oliveira Campos Neto, economista, formada pela
Universidade da Califórnia, 27º. presidente do Banco Central, fez um notável
trabalho, consolidando a ideia de independência institucional da ferramenta pública
que opera a política monetária. As instituições não são abstrações jurídicas.
Dependem para seu sucesso da intervenção das pessoas que as lideram. Longe dos
arroubos retóricos radicais de alguns, é inevitável perceber, nos fatos e
números, a isenção e consistência da atuação de Roberto Campos Neto, à frente do
cargo que ocupou de 2019 até dezembro de 2024.
Vejamos.
Com base na sólida ancoragem fiscal oferecida pelo “Teto dos Gastos”, sob sua
liderança, a SELIC alcançou o menor patamar de sua história, 2,0%, em agosto de
2020. Percebendo os efeitos inflacionários após a pandemia e a perda de solidez
da política fiscal, o BC iniciou um aumento paulatino da taxa básica de juros,
em março de 2021, chegando, às vésperas da eleição presidencial, em agosto de
2022, à 13,75%. Como acusá-lo de ação política para ajudar o presidente que o
nomeou?
Já
no mandato do presidente Lula, com a inflação convergindo para a meta, liderou a
queda da SELIC para 10,50%, até maio de 2024. Quando a percepção sobre a fragilidade
da política fiscal cresceu e os preços entraram em trajetória ascendente,
patrocinou, junto com seus diretores, o aumento da taxa de juros para o atual
patamar de 12,25%, sinalizando dois novos aumentos de 1 p.p. nas próximas
reuniões do COPOM.
Tudo o que foi dito mostra quão injustas são as acusações de atuação parcial e tendenciosa. Sem falar na exitosa implantação do PIX e na consolidação de regras que aumentaram a competição no oligopolizado mercado financeiro brasileiro. Fica evidente que Roberto Campos Neto fortaleceu a instituição que presidiu e portou-se como exemplar servidor público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário