sábado, 4 de janeiro de 2025

Emplacando 2025 – Eduardo Affonso

O Globo

Deveria haver indicações da última saída antes dos territórios sob controle da milícia ou do narcotráfico

Eduardo Paes emplacou nesta semana seu quarto mandato como prefeito da Mui Leal e Heroica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. E haja mesmo lealdade e heroísmo nos cariocas (e agregados) para viver neste balneário, com flecha perdida vindo de tudo quanto é lado.

O tetra-alcaide não tem poderes para combater a violência. O ônus é do governador, que comanda (?) as polícias Civil e Militar. Não quer dizer que não haja ações a seu alcance. Uma delas é, literalmente, emplacar a cidade.

Poderia começar pelas placas das ruas. As que existem são poucas, diminutas, ilegíveis para quem vem de carro e precisa virar num logradouro cujo nome só se revela quando é tarde demais para dar seta e mudar de faixa ou mandar parar a van. Isso reduziria, se não a violência, pelo menos o estresse no trânsito.

Em seguida, sinalizar as rotas mais comuns. Quem sai do Túnel Rebouças com destino à Rodoviária tem grandes chances de ir parar na Praça da Bandeira ou no Caju; e perder o ônibus. Onde se lê “Maracanã”, leia-se “Era aqui que você devia ter entrado para ir pro Maracanã, mané!”. Que tal as placas virem um pouco antes dos acessos, não logo depois? Sim, é uma proposta um tanto disruptiva e contraintuitiva, mas nada que se ombreie à distribuição de Ozempic na rede pública de saúde.

Por fim — e, agora sim, o mais importante: já não passou da hora de delimitar as áreas do Rio de Janeiro que não estão sob jurisdição do prefeito, do governador ou do presidente da República? Aquelas que pertencem ao Estado paralelo, com código penal próprio?

Seja na Linha Amarela, na Estrada dos Bandeirantes ou na subida para o Cristo, deveria haver indicações da última saída antes dos territórios sob controle da milícia ou do narcotráfico. Algumas poucas placas espalhadas pela Zona Oeste ou por Santa Teresa — demarcando a fronteira entre o que é administrado pela Prefeitura e o que é dominado por bandidos — poderiam salvar muitas vidas.

Mesma coisa no Complexo da Maré — onde ninguém entraria por engano, acarretando dissabores e desperdício de munição por parte do governo local, a cargo do Terceiro Comando Puro e do Comando Vermelho.

Perto da entrada de cada um desses enclaves, uma placa maior (ok, pode ser um outdoor) traria informações básicas, como “Diminua a velocidade, apague os faróis, abaixe os vidros, acenda a luz interna, ponha as mãos na cabeça e reze para que as vítimas da sociedade — ou a escória da polícia — acreditem que você apenas errou o caminho — e perguntem antes de atirar”. Se o custo for elevado, pode-se tentar uma parceria público-privada com plataformas de transporte por aplicativo. Os motoristas que usam apps de navegação por GPS hão de ganhar muito em qualidade de vida (e em vida, inclusive).

Alternativamente, também seria viável pintar setas na pista: seguindo em frente, chega-se ao Cristo Redentor; virando à direita (ou à esquerda), sabe Deus o que aguarda (nesta ou noutra existência) o intrépido visitante da Cidade Maravilhosa.

Não precisa emplacar logo a moda de sinalizar ideologicamente os lugares (Barra e Leblon são, obviamente, fascistas; progressistas, o Baixo Botafogo, Wakanda in MadureiraPedra do Sal). Isso pode ficar para um próximo governo.

 

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