terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sem lugar na Praça dos Três Poderes


Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


É mais que uma ameaça do PT e do Palácio do Planalto o risco de o PMDB ficar sem uma cadeira institucional na Praça dos Três Poderes, nos dois últimos anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do qual tornou-se o principal aliado e pelo qual é tratado como parceiro preferencial para as eleições de 2010.

Trata-se de um risco real porque o acordo PT-PMDB, reafirmado semana passada pelos dois partidos, não basta para assegurar matematicamente a eleição do deputado Michel Temer (SP) para a presidência da Câmara.

Somadas, as duas bancadas contam com 174 deputados, sendo 94 do PMDB e 80 do PT. Supondo-se que Temer fique com todos eles, ainda faltariam 82 para a maioria absoluta exigida à eleição em primeiro turno.

Parece pouco, mas a desenvoltura da campanha do deputado Ciro Nogueira (PP-PI) é bastante para deixar preocupados os pemedebistas. Especialmente os senadores.

O Senado é um colégio menor (são 81 eleitores) e mais fácil de controlar, segundo dirigentes pemedebistas acostumados às duas disputas. A dúvida é a Câmara. O risco, avalia o partido, é abrir mão da presidência do Senado para o PT, como quer o governo, e Michel Temer perder a eleição entre os deputados.

Ciro é o candidato do que se convencionou chamar de baixo clero, como era Severino Cavalcanti (PE), seu colega de partido. A exemplo de Severino, tem amplo trânsito nessa maioria silenciosa que transita anônima os corredores da Câmara, mas não faz o estilo folclórico do "deputado das bananas" como Severino se qualificava, com orgulho. Ou na expressão politicamente incorreta de um dirigente partidário: "Ciro sabe comer com talher".

O deputado do PP está há mais de dois anos em campanha e é a nova cara de um baixo clero ressentido com as cúpulas partidárias, em geral por falta de oportunidades para trocar o fundão do plenário por um assento nos primeiros lugares, aqueles aos quais os holofotes da mídia reservam especial atenção.

Não bastasse o assédio de Ciro Nogueira, a trincheira do pemedebista está na mira também do "bloquinho" (PSB, PDT e PCdoB), que se ressente do acordo PMDB e PT que permitiu a eleição de Arlindo Chinaglia e a derrota do deputado Aldo Rebelo, para a presidência da Câmara, na eleição de 2007.

A manutenção do acordo de 2007 está ameaçada, mesmo, apesar das reiteradas juras feitas pelo PT de que não vai vincular as eleições para as duas Casas - ou seja, entregaria a Câmara para o PMDB, mas em troca levaria a presidência do Senado, em nome da harmonia dos poderes.

O PMDB até conversa sobre o apoio a Tião Viana (PT-AC), mas a candidatura do senador sofreu um baque esta semana, ao se descobrir que ele fez emendas ao Orçamento para a distribuição de 1,8 mil cadeiras de rodas no Acre - prática assistencialista que não condiz com seu discurso de campanha (os senadores seriam mais condescendentes com uma emenda coletiva, mas trata-se de uma emenda pessoal).

A insegurança em relação à Câmara, no entanto, levou a bancada de senadores a reclamar sua prerrogativa de eleger o presidente do Senado, em reunião realizada na semana passada, da qual participaram todos os seus 20 integrantes. Inclusive José Sarney.

O ex-presidente continuar a dizer que não é candidato, mas um novo argumento começou a circular em seu favor: embora filiado ao partido, ele seria o único nome que extrapola a bancada do PMDB, dispondo também de aliados em todas as outras bancadas, do Democratas ao PT.

Quebra de contrato

Os novos ataques do grupo dominante do PT à política monetária não chegam a surpreender. São inoportunos, mas recorrentes. Talvez reflitam apenas a frustração daqueles que viam no crescimento econômico a chance de se livrar de uma vez por todas de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central (BC), e sua equipe. Ou talvez a tentativa de impedir que o tucano José Serra tome conta do discurso da queda dos juros, que o mercado futuro já contabiliza para mais dia, menos dia.

Discurso, aliás, que há mais de oito anos é também recorrente no governador de São Paulo. Serra costuma brincar dizendo que não deixou o Ministério do Planejamento, em 1996, para ser candidato a prefeito de São Paulo; na realidade, ele foi candidato (e perdeu) para deixar o ministério, onde acumulara um imenso contencioso com a equipe econômica. Entre outros motivos, juros altos, embora já se iniciasse um movimento de queda, e câmbio apreciado.

Mas a investida do Construindo um Novo Brasil, a nova denominação do antigo campo majoritário do PT, também pode esconder outras poções que fervem em caldeirões petistas, como a retirada da autonomia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva até agora deu ao BC. Seria uma quebra de contrato, pois a autonomia, mesmo restrita ao fio de bigode entre Lula e o presidente do BC, foi a condição que Meirelles impôs para renunciar a um mandato de deputado federal e assumir o Banco Central numa época em que a cobiçada cadeira era evitada por outras cabeças mais cotadas para a função.

Roda mundo

As opiniões do senador José Sarney sobre o governador de São Paulo, José Serra, não são "imutáveis", como se habituou a acreditar o mundo político nos últimos seis anos, segundo interlocutores assíduos do ex-presidente e de sua filha Roseana Sarney. Uma operação da Polícia Federal num escritório do marido de Roseana, em 2002, envenenou a relação dos Sarney com Serra e jogou por terra a candidatura presidencial de Roseana, bem avaliadas por todas as pesquisas da época.

Nesse período, Roseana e o marido foram isentados pela Justiça. Os interlocutores da família, por outro lado, dizem que as opiniões de Sarney sobre Serra "não são imutáveis". Suas restrições seriam muito mais ao caráter "paulista" da candidatura Serra. O senador tem sido aconselhado a conversar com o presidenciável tucano.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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