quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Efeito no PIB só deve vir no fim do ano

Cássia Almeida
DEU EM O GLOBO


Para economistas, redução de juro não terá benefício direto sobre emprego

Professor da PUC especialista em inflação, o economista Luiz Roberto Cunha é pessimista sobre os efeitos do corte da Taxa Selic, promovido ontem pelo Comitê de Política Monetário (Copom), na atividade econômica e, consequentemente, na geração de empregos. Para ele, o desenrolar da crise internacional é que ditará o movimento da economia brasileira nos próximos meses. Mesma opinião tem o diretor da Nossa Caixa Joaquim Elói Cirne de Toledo, mas com uma dose de otimismo maior. Para ele, o corte pode trazer benefícios para o investimento das empresas e das famílias, no último caso no financiamento habitacional e de veículos, mas somente no fim do ano ou início de 2010:

-Não há efeito direto no aumento da demanda interna. Os juros subiram de abril a setembro de 2008 e a atividade econômica manteve-se em alta com criação recorde de vagas - afirmou Cirne de Toledo.

Os dois economistas esperam que o afrouxamento da política monetária leve a taxa básica de juros, a Selic, para 10,75% ao ano, com mais dois cortes de dois pontos. E a inflação, sempre o foco do Comitê de Política Monetária, deixou de preocupar.

- O determinante agora para os juros é o nível de atividade. Houve uma queda tão intensa nos preços industriais que, mesmo o aumento do transporte urbano e dos reajustes já contratados em 2009, as expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que oriente o sistema de metas de inflação do governo) este ano convergem para a meta de 4,5%, mesmo sem contar com a queda esperada no preço da gasolina - afirmou Cunha.

O professor da PUC lembra que as análises tradicionais na economia ficaram comprometidas diante do tamanho e da duração da crise.

- As surpresas são sempre desagradáveis. Se houve destravamento do crédito, os efeitos dos juros menores devem aparecer na economia dentro de seis ou nove meses. E há o efeito psicológico nas expectativas dos agentes.

Para Cirne de Toledo, o primeiro impacto será financeiro dentro das empresas que terão custo menor para se financiar. E o investimento também deve reagir só no ano que vem:

- Mesmo assim, o que ditará o ritmo da economia brasileira será o comportamento da crise internacional. A flexibilização da política monetária só terminaria em fim de abril, quase no meio do ano. Com a defasagem esperada, o impacto, se vier, só no ano que vem.

Para animar a economia, Cirne de Toledo aponta o investimento público em infraestrutura como mais relevante do que a queda de juros.

Cunha, da PUC, lembra que o fantasma da crise ainda ronda fortemente o sistema financeiro americano, inglês e japonês:

- Fica difícil fazer previsões nesse cenário.

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