sexta-feira, 15 de maio de 2009

Famiglia Coppola

Vincent Gallo, no papel principal
Silvana Arantes
Enviada Especial a Cannes
DEU NA FOLHA DE S. PAULO / Ilustrada


Francis Ford Coppola volta à direção com "Tetro", saga familiar com elementos em comum com a própria história do cineasta

Exibido ontem na abertura da Quinzena dos Realizadores, "Tetro", novo filme de Francis Ford Coppola, conta a saga de uma família -os Tetrocini.

"Nada do que aparece no filme de fato aconteceu, mas tudo é verdade", disse Coppola, respondendo ao crescente rumor de que a trama, escrita por ele e recheada com caprichos de um pai tirano e rivalidade entre irmãos, é autobiográfica.

Alimenta os rumores o fato de que o patriarca dos Tetrocini e seu irmão são músicos, assim como o foram pai e tio de Coppola, 70. Nos EUA, o diretor marcou a estreia do longa para o próximo dia 11/6, data de aniversário de seu pai.

No filme, Vincent Gallo interpreta Angelo Tetrocini, primogênito do maestro Tetrocini. Ele aspira a ser escritor, mas, como "nesta família só há lugar para um gênio", conforme lhe diz seu pai, Angelo corta os laços com todos os parentes, muda-se para Buenos Aires e passa a assinar apenas Tetro.

Prestes a completar 18 anos, o filho mais jovem do clã, Benjamin Tetrocini (o estreante Alden Ehrenreich, que lembra Leonardo DiCaprio), vai a Buenos Aires para tentar encontrar Tetro e desvendar os mistérios em torno da vida de seu pai e da morte de sua mãe -maiores do que poderia supor.

Tetro vive na multicolorida região de La Boca, mas Coppola filmou toda a ação na Argentina em preto-e-branco. Apenas as raras cenas em que os personagens se lembram do passado são coloridas. Os diálogos de Tetro com seus amigos portenhos, como o dono de teatro José, vivido por Rodrigo De la Serna ("Diários de Motocicleta"), se dão em espanhol.

Acompanhado da mulher, Eleanor, do filho Roman, diretor da segunda unidade de filmagens de "Tetro", dos atores Ehrenreich e Maribel Verdú (a namorada de Tetro), Coppola encontrou ontem o público da primeira sessão de seu filme na mostra paralela do Festival de Cannes. O protagonista Vincent Gallo, que está na Riviera, não compareceu à exibição.

Cultura forte a baixo custo

O cineasta negou a premissa do diretor da Quinzena dos Realizadores, Olivier Père, de que esse é seu filme "feito com mais independência e liberdade", já que foi "escrito, dirigido e produzido por Francis Ford Coppola", como assinalam os créditos iniciais da obra.

"Depois que "O Poderoso Chefão" [1972] fez tanto sucesso, passei a ter total controle sobre os meus filmes. Mas houve um período em que eu devia ao banco. Dos meus 40 aos 50 anos, tive de fazer um filme por ano e rodava os roteiros que me mandavam", afirmou Francis Coppola.

À revista "Hollywood Reporter", o cineasta contou que a Argentina entrou em sua mira como local de filmagens porque ele procurava um país com atrativos na cotação do dólar, mas que também possuísse uma cultura pujante.

O diretor escreveu o papel de Tetro pensando em Matt Dillon para interpretá-lo, mas "era difícil conseguir que ele tivesse disponibilidade para ficar quatro meses filmando na Argentina", afirmou.

A atriz espanhola Carmem Maura interpreta a crítica de teatro Alone. Inicialmente, o papel seria de Javier Bardem, que, segundo Coppola, ofereceu-se para trabalhar no filme mas mudou de ideia, depois de vencer o Oscar com "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007).

"Acabei achando que ter uma mulher nesse papel seria mais interessante", disse o cineasta. Criadora do fictício "prêmio dos parricidas" do fictício "Festival da Patagônia", Alone é mais um elemento de confronto no histórico de rivalidades dos Tetrocini, mas não forte o bastante para fazê-los abdicar sua máxima: "Está tudo bem. Somos uma família".

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