segunda-feira, 4 de junho de 2012

Clima tenso nas mudanças do segundo escalão

Dilma reduz mudanças no segundo escalão

Após trocas de nomes políticos por técnicos, presidente deve esperar fim das eleições para não piorar relação com aliados

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA. Após seis meses de intensas trocas no segundo escalão, a presidente Dilma Rousseff pretende a partir de agora reduzir o ritmo de mudanças. Interlocutores da presidente consideram que as alterações no comando do fundo de pensão Previ e no próprio Banco do Brasil encerram um ciclo que redundou na substituição de vários nomes políticos por técnicos. O objetivo é evitar que o clima com os partidos aliados piore mais. A presidente considera que ainda há substituições necessárias, mas deve deixar para o fim do ano, para depois das eleições.

O caso que provocou maior indignação entre governistas foi o da Petrobras. Assim que trocou José Sérgio Gabrielli pela técnica Maria das Graças Foster, Dilma deu liberdade para a nova presidente. Graça então trocou três vice-presidentes que há anos estavam na cúpula da estatal, apoiados por caciques políticos: Paulo Roberto Costa, da diretoria de Abastecimento, era apoiado pelo PP e considerado intocável até por petistas; Renato Duque, da de Serviços, que era do PT; e Jorge Zelada, da Área Internacional, que servia ao PMDB. O movimento revoltou os partidos.

- Ficamos sabendo da saída do Paulo Roberto no dia da demissão. A sorte do governo é que não tem votação importante pela frente, senão daríamos o troco - revolta-se um parlamentar do PP, que não quis se identificar.

As mudanças no segundo escalão, no entanto, são calculadas. A presidente sabe que não há no curto prazo questão relevante a ser votada e que sua popularidade ainda está em alta.

Mas nem o PT está satisfeito. Dilma promoveu trocas nos bancos públicos, área controlada por uma ala sindical do partido, e não aceitou sugestões de dirigentes e líderes da legenda. Há quase um mês, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi convidado para um encontro na residência oficial do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Participaram os líderes do PT, Jilmar Tatto (SP), e do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Na conversa, os três sugeriram a Mantega um substituto para a vaga que seria deixada por Ricardo Oliveira na vice-presidência de Governo do BB. Mantega declinou imediatamente. A reação veio de Marco Maia, que levantou-se da mesa de sua própria residência e disse que não tinha motivo para continuar ali.

O PMDB, por sua vez, já cansou de se lamentar. A saída de Zelada da Petrobras foi só a mais recente baixa. Desde que Dilma assumiu o governo, o partido foi apeado das presidências da Eletrobras, da Eletronorte, da Eletrosul, de Furnas, da Fundação Nacional de Saúde, e da Secretaria de Atenção Básica à Saúde. Hoje, a maior preocupação do partido é manter o que ainda tem. A preocupação principal é a presidência da Transpetro, ocupada por Sérgio Machado a pedido de Renan Calheiros (AL). Desde o ano passado, Machado e três diretores da estatal - indicados pelo ministro Marcelo Crivella, por Romero Jucá (PMDB-RR) e pelo PT - estão na berlinda.

O governo, no entanto, adiou novas mudanças não só para ganhar um fôlego e suspender as frequentes queixas, mas também para não minar o poder dos partidos aliados nas eleições municipais. É justamente na eleição de prefeitos que se estabelece a base política para as eleições presidenciais dois anos depois.

FONTE: O GLOBO

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