A Anistia Internacional chamou de "violenta e excessiva” a reação da PM do Rio aos atos de vandalismo nas manifestações que terminaram com 46 pessoas detidas. Governo diz que investiga grupos de vândalos. Apesar da baixa adesão, sindicatos dizem que atos foram um sucesso
Anistia critica violência da PM e acende discussão sobre o tema
Polícia diz que está investigando grupo de vândalos que age no Rio
A reação da Anistia Internacional às imagens de confrontos que transformaram em praça de guerra as cercanias do Palácio Guanabara, sede do governo do estado, em Laranjeiras, levantou uma discussão sobre a atuação da PM nos protestos ocorridos no Rio. Em nota, o diretor executivo da instituição, Átila Roque, definiu a reação da polícia como "violenta e excessiva". Ele disse ainda que a polícia "atuou, mais uma vez, movida apenas pelo desejo de reprimir os manifestantes, com uso absolutamente abusivo e desproporcional da força".
No texto, o representante da Anistia Internacional no Brasil disse ter visto a polícia perseguir pessoas pelas ruas de Laranjeiras e Flamengo, encurralar grupos, atacar hospitais e bares com balas de borracha e gás lacrimogêneo. "Algo inacreditável".
As ações violentas desencadeadas por pequenos grupos, somadas ao forte revide da polícia, acabam trazendo sempre o mesmo resultado: confronto e depredação do patrimônio público, sem que se faça uma distinção entre os manifestantes.
- Há diferentes grupos violentos, os pré-políticos, que não têm propostas, e os políticos, que realmente defendem um confronto com o Estado. O primeiro é o indivíduo psicologicamente perturbado que age envolvido pela multidão, e isso ocorre em qualquer tipo de aglomeração social. Há os anarquistas, dos quais fariam parte os Black Blocs, que consideram o Estado opressor, e por isso têm a necessidade de marcar um conflito. Esse grupo tem um comportamento mais teatral. Mas são motivos políticos; essas pessoas não são loucas - explica Manuel Sanches, professor do IFCS.
Nos confrontos registrados no Centro na noite de quinta-feira, foram encontrados com um grupo caixas com coquetéis molotov. Manifestantes se dividem sobre o tema da violência em protestos. Para Pablo Mendelbaum, um dos criadores do evento no Facebook "Impeachment Sérgio Cabral, improbidade administrativa e violência policial", o uso da violência por civis é uma reação à truculência policial:
- A partir do momento em que vou a uma manifestação pacífica e recebo violência do Estado, a reação é uma ação de legítima defesa. Quando não há diálogo, não há o que fazer. A gente não tem canal com a polícia, não há retorno, não há investigação sobre abusos. Como cobrar que sejamos pacíficos quando o estado, que tem o monopólio da violência, não investiga?
De acordo com a polícia, no entanto, as ações violentas são sempre desencadeadas por um grupo infiltrado entre os manifestantes pacíficos.
A tradutora Natasha Zadorosny, que participou de grande parte dos protestos em junho, o uso da violência faz com que os manifestantes percam a razão:
- Defendo uma manifestação completamente pacífica, fiquei apavorada no protesto de segunda (17/06) quando picharam o Paço Imperial. Doeu de ver. A grande força é o volume de pessoas nas ruas.
Cabral critica excessos
Ontem, o governador Sérgio Cabral disse que tanto a violência da polícia quanto a dos manifestantes deve ser rejeitada:
- Não é assim que se faz oposição, não é atacando palácios, é debatendo. Essa oposição que veio para cá ontem (quinta-feira) não respeita o jogo democrático, o debate, o diálogo.
De acordo com a Polícia Militar, 46 pessoas foram detidas nos protestos de anteontem. A Polícia Civil informou que o grupo Black Blocs e outras pessoas estão sendo investigadas.
- Sou radicalmente contra a violência. Movimentos pacíficos têm o poder e vigor de pressionar os governos. Essa violência tem aparecido de forma proposital, são grupos organizados. Isso desperta um pavor nas pessoas. Nunca vimos lojas e bancos fecharem, colocarem tapumes. Nem os anarquistas fariam isso, eles sempre mostraram a cara - disse Darby Igayara, presidente da CUT-RJ.
Fonte: O Globo
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