terça-feira, 6 de agosto de 2013

Segundo tempo - Tereza Cruvinel

Governo e Congresso se preparam para o segundo tempo do jogo, neste ano crucial. A presidente fez um gesto objetivo ao se reunir com os líderes da base aliada

A folga do falso recesso acabou, mas o ambiente político continua incerto e tenso, tanto nas ruas quanto nas esferas institucionais. Para o governo e para o congresso, depois da surra dos protestos iniciados em junho, a hora é de acertar a tática de jogo para o segundo tempo do jogo, neste ano crucial.

De sua parte, Dilma ontem acenou para as ruas, especialmente para os jovens, ao sancionar o Estatuto da Juventude, e fez um gesto, finalmente objetivo, em direção à sua base de sustentação parlamentar. Deve ter sido a primeira vez que ela se sentou com os líderes aliados para discutir a agenda legislativa, sobre a qual, no final do semestre passado, o Planalto perdeu o controle. Os resultados não foram piores porque o próprio Congresso, no afã de agradar às ruas, apegou-se a uma certa agenda positiva que lhe consumiu boa parte das sessões, antes da debandada. Agora, porém, os temas que se apresentam são de alta combustão, como a derrubada de vetos, o orçamento impositivo e a MP do Mais Médicos. Tendo refugado uma reforma ministerial e mudanças na coordenação política, Dilma terá de atuar mais diretamente. Político gosta mesmo é de falar com o rei ou rainha. Se vai manter a ministra Ideli Salvati, terá de delegar mais poder e autonomia para negociar. A atuação concorrente do ministro da Educação, Aloysio Mercadante, não contribuiu. Pelo contrário, deixou a base aliada ainda mais confusa quanto aos canais de interlocução.

Antes mesmo da reunião entre Dilma e os líderes, já estava em curso uma negociação no Congresso sobre os vetos, apontando para soluções intermediárias. Ela vetou, por exemplo, o projeto que acaba com a contribuição de 10% sobre o FGTS em caso de demissões sem justa causa, recursos que, diz o governo, farão falta ao programa Minha Casa, Minha Vida. Os congressistas não querem contrariar os empresários, queixosos da carga tributária, aos quais pedirão ajuda financeira para suas campanhas no ano que vem. A solução que se negociava ontem era a supressão escalonada da contribuição, com redução de 25% a cada ano. Isso exigirá uma emenda em alguma MP, ou um projeto de lei. Solução parecida era estudada para o projeto do Ato Médico, vetado por Dilma para maior ira da categoria já revoltada com o Mais Médicos. Já a liberação impositiva das emendas orçamentárias de parlamentares, não será fácil evitar. O governo entendeu. Terá de negociar ponto a ponto.

Nervo ciático
O Governo tem problemas na base até com o PT, mas a relação com o PMDB é o nervo exposto da situação. O partido esticou a corda o quanto pode antes do recesso, ameaçando até aprovar uma emenda constitucional para limitar o número de ministérios, o que seria uma violação da autonomia administrativa do Executivo. Dilma até agora não cedeu às pressões mas, por outro lado, concluiu que, apesar dos pesares, pior seria sem o PMDB. Se o partido não tem muito para onde correr, ela precisa dele para governar e para disputar a reeleição. Os dois lados já concluiram que é hora do armísticio. O problema é que está faltando um pacificador . O vice-presidente Michel Temer enfrenta o dilema de representar o partido e o governo ao mesmo tempo, mas vai acabar sobrando é para ele mesmo. Sarney ajudaria, se não estivesse doente. Renan Calheiros e Henrique Alves estão por demais comprometidos com os líderes e as bancadas nas casas que presidem. Mas eles vão baixar as armas, antes que algum tiro saia pela culatra.

Jovens e redes
Para quem, como Dilma, ouviu o estrídulo das ruas, desaforos de aliados e algumas vaias, afora a queda nas pesquisas, a solenidade de ontem foi um refrigério. Os jovens que lotaram o salão nobre podem ter ido às ruas, como garantiam, mas não representam os que estrearam agora nas manifestações. Eram artistas, militantes das juventudes partidárias, da UNE e dos conselhos de juventude, grupos próximos do Governo. Aplaudiram diversas vezes o discurso em que ela se emocionou ao dizer, na transversal, que já esteve no lugar deles no passado, garantindo que não deixou os compromissos democráticos lá fora ao assumir o cargo. Ao criticar a violência policial contra os jovens, ela ganhou até aquele grito de guerra que era dedicado a Lula: olê, olê, olá, Dilma.
Acento no a.

Dilma disse achar “muito feio” o nome “Participatório”, dado pelo ministro Gilberto Carvalho ao observatório de participação digital criado pelo Governo para interagir com os jovens nas redes sociais, mas garantiu: “vamos ficar cada vez mais conectados, não só com a voz das ruas, mas com as redes também”.

A ferramenta vem com atraso, mas é necessária. O que ninguém explica é por que Dilma desativou, e não fala em reativar, sua conta no Twitter, que, ao ser suspensa, em 2010, tinha quase dois milhões de seguidores. Todos os presidentes tuitam muito. Barack Obama tem mais de 33 milhões de seguidores, Cristina Kirchner, mais de 2,1 milhões, o colombiano Juan Manuel Santos, 1,9 milhões, para ficar na vizinhança. Sem falar no Papa, grande tuiteiro. Governantes, políticos e profissionais que quiserem aprender mais sobre as redes podem participar do seminário “O papel das redes sociais e o momento político no Brasil”, que a Oficina da Palavra realiza no dia 14, no Cine Cultura do Liberty Mall. Um dos expositores será o especialista Fábio Malini, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo.

Fonte: Correio Braziliense

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