Presidente do STF foi criticado por magistrados por ter saído de férias sem expedir mandado de prisão a mensaleiro
Mário Camera
PARIS - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, disse nesta sexta-feira, em Paris, não se preocuparcom o suposto mal-estar causado entre seus colegas de Corte. Barbosa foi criticado por ter saído de férias sem expedir o mandado de prisão contra o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), condenado no processo do mensalão. Ele ainda cobrou decência da imprensa e contenção dos juízes.
- Eu não estou preocupado com nada disso. O que eu tinha que falar eu já falei. Estou aqui seguindo a minha vida - disse Barbosa, na capital francesa, onde participou de um colóquio organizado pela Universidade Sorbonne.
Joaquim Barbosa evitou responder perguntas sobre o caso. Na última quarta-feira, o ministro já havia dito que não expediu o mandado contra João Paulo Cunha por “falta de tempo”. O magistrado também negou que as prisões dos condenados no julgamento do mensalão estejam sendo realizadas em conta-gotas.
- Não foram prisões conta-gotas. Foram feitas doze prisões. Cada caso é um caso. Nós estamos analisando a vida de pessoas e eu não cuido só disso - afirmou o magistrado.
Sobre a reação do advogado de João Paulo Cunha, Alberto Toron, que chegou a qualificar a viagem à França de Barbosa como um “rolezinho em Paris”, ele disse ser vítima de uma grosseria.
- Um advogado vir a público fazer grosserias preconceituosas contra um membro do judiciário que julgou seu cliente, é prova eloquente de um déficit civilizatório.
Barbosa não quis comentar a atitude de seu antecessor no cargo, o ex-ministro e ex-presidente do STF, Nelson Jobim, que doou 10 mil reais para ajudar a pagar a multa à qual foi condenado o ex-deputado José Genoino por seu envolvimento no mensalão. Perguntado a respeito, o magistrado respondeu com uma careta.
Durante o colóquio, Barbosa cobrou decência da imprensa e contenção dos juízes.
- O que aprendi em 11 anos é que essa jurisdição (STF) é, de certa maneira, vítima de seu sucesso. Pois, se a transparencia é, democraticamente, desejada, é indispensável, no entanto, conjugar decência e contenção: decência dos jornalistas em privilegiar as questões jurídicas em vez das questões pessoais que existem dentro da corte e a contenção dos juízes, para que triunfe a colegialidade sobre a individualidade - disse para em seguida concluir.
- Falei dos jornalistas pois, devido à mediatização, temos, no seio da corte, mais de duas dezenas de jornalistas trabalhando diariamente lá. O disse-me-disse, naturalmente, por causa da presença desses jornalistas, torna-se a regra - explicou.
- No que diz respeito ao conteúdo das decisões, infelizmente, eu diria que a imprensa não é mais a mesma - em contar o essencial das decisões. Ela se mantém no anedótico, tira algumas frases para as manchetes, mas o essencial não é discutido.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário