Palácio do Planalto analisa razões para queda na popularidade da presidente
Cristiane Jungblut, Isabel Braga – O Globo
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto está tentando identificar as razões da queda de sete pontos percentuais na aprovação da presidente Dilma Rousseff e da continuada redução na aprovação em áreas importantes, como Saúde. E Educação. Na quinta-feira, quando a pesquisa da CNI/Ibope foi divulgada, a presidente já se reuniu com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e outros para tratar do assunto.
Aliados do Planalto temem que a queda na popularidade sirva, a partir da próxima semana, como estopim para a volta de antigas pressões para votar propostas da chamada pauta-bomba na Câmara — cujo custo o governo calculou em R$ 60 bilhões no ano passado — e que se fortaleça a questão da CPI da Petrobras.
A avaliação é que nem mesmo a aprovação do Marco Civil da Internet terminou com os problemas no Congresso, em especial na Câmara, por conta da crise envolvendo a Petrobras. Além disso, o PMDB lidera as insatisfações entre os partidos aliados, mesmo depois do esvaziamento do chamado blocão. A bancada da Câmara do PMDB se reúne na próxima terça-feira com o vice-presidente Michel Temer. Há um movimento para que o PMDB se torne independente não apenas nas votações, mas no plano eleitoral.
O sinal de alerta no Planalto sobre o resultado ruim da pesquisa — que mostrou uma redução de 43% para 36% o índice de avaliação positiva do governo Dilma _ se acendeu na própria quinta-feira, quando os dados foram divulgados. Segundo integrantes do Planalto, a presidente Dilma se reuniu com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e outros assessores ligados à Comunicação do governo. O governo, segundo estes interlocutores, ainda procura explicações para a queda. O governo teve péssima avaliação em Saúde, por exemplo, mesmo com a maciça propaganda sobre o programa Mais Médicos.
No caso da pauta-bomba, o presidente da Casa, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), já recebeu uma lista de cem prioridades dos partidos. A lista é encabeçada pela proposta sobre o piso salarial dos agentes de Saúde - uma votação que o governo fez de tudo para evitar no ano passado e conseguiu.
Mas a pressão das bancadas dos partidos, em ano eleitoral, está voltando. Há ainda sugestões que incluem projetos como a PEC dos Policiais, outro assunto que causa temor no Planalto. Henrique Alves lançou sua candidatura ao governo do Rio Grande do Norte e pode querer fechar sua gestão com a aprovação de vários projetos importantes. Na próxima semana, a pauta da Câmara estará trancada por um projeto e duas Medidas Provisórias, inclusive a polêmica MP 627, que trata de legislação tributária e taxação de lucros no exterior. Mas Henrique Alves quer fazer um esforço concentrando de sete a 11 de abril, com projetos de impacto social, como a regulamentação da PEC das Domésticas.
— A pauta da Saúde voltou — disse o deputado Danilo Forte (PMDB-CE). Já o líder do PP na Câmara, deputado Eduardo da Fonte (PE), disse que o momento não é de votar propostas que aumentem os gastos públicos. O PP foi um dos primeiros partidos a se reunir com o governo e, depois, deixar o chamado blocão.
— O momento não é de colocar matérias que sejam polêmicas, até porque é difícil votar. Temos que votar propostas de interesse da sociedade, como aquelas que tratam de segurança pública e defesa do consumidor. No meu entendimento, a mudança na articulação do governo oxigenou a relação do governo com a base no Congresso — disse Eduardo da Fonte, elogiando o ministro Mercadante e o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que substituirá Ideli Salvatti na Secretaria de Relações Institucionais.
Para o vice-líder do PT na Câmara, deputado José Guimarães (CE), não há risco de votações polêmicas. Ele acredita que a questão agora é política, se referindo ao clima beligerante entre governo e oposição, e disse que o PT terá que ser mais agressivo na atuação parlamentar.
Ele disse que o PT, em especial, terá que ser vigilante nas comissões temáticas da Câmara, para fazer o debate e evitar aprovação de requerimentos que possam prejudicar o governo. Mas parte dos partidos da base e a oposição têm conseguido aprovar uma verdadeira avalanche de requerimentos de convite ou convocação de ministros e outras autoridades do governo Dilma.
— O PT tem que enfrentar a disputa (com a oposição). O PT tem que ir para cima, com todo o gás — disse Guimarães.
Mas o petista acredita que a presidente vai recuperar a popularidade e que o governo mostrará suas realizações durante a campanha eleitoral. Para ele, a pesquisa é o resultado de um momento.
— Quando as forças entrarem em campo na campanha, tudo se estabiliza — disse Guimarães.
Já o deputado Danilo Forte acrescentou que o resultado da pesquisa mostrou a falta de sintonia entre as ações anunciadas pelo governo e a sociedade. Ele disse que o mesmo problema de interlocução existe entre o governo e os partidos.
— É tudo reflexo da falta de diálogo — disse Danilo Forte.
Afinado com o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), Danilo Forte disse que a bancada do partido quer um discurso afinado entre a Câmara e o Senado. Nos bastidores, há reclamações de que os deputados vão para o enfrentamento em votações e nas questões partidárias e eleitorais, enquanto os senadores sempre fazem acordos com o Planalto. Para Danilo Forte, o governo precisa entender que a Câmara acaba refletindo as tensões .
Inicialmente, o encontro de Temer com o PMDB seria no Palácio do Jaburu. Mas agora a ideia e fazer um jantar na residência de um parlamentar, para se afastar da questão oficial, já que o Jaburu é a questão não utilizar uma
— O tambor da política é a Câmara e não o Senado — disse Forte.
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