quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Partidos arregimentam forças para a disputa presidencial – Editorial / Valor Econômico

A campanha eleitoral, iniciada ontem, marca o início da grande arregimentação e reaglutinação de forças para a disputa à Presidência, em um ambiente de dispersão partidária maior do que em qualquer outro pleito desde o impeachment de Fernando Collor. PT e PSDB deixaram de ser, após duas décadas, os principais catalisadores de alianças na corrida eleitoral. O impeachment, a esta altura quase certo, da presidente Dilma Rousseff, deixa um vácuo à esquerda, com a decadência do PT, sem que no campo de centro-direita, também disperso, haja uma aliança consolidada.

Os votos municipais terão, talvez mais do que nas eleições anteriores, o poder de formatar as alianças partidárias viáveis, em geral construídas previamente, por cima, pelas cúpulas. O campeão dos pleitos municipais, o PMDB, leva vantagem nesse jogo e tem agora orientação diferente - deve tentar algo inédito desde 1986, arrebatar a Presidência como cabeça de chapa. Essa ambição delineia a estratégia de outros contendores e, também, a de cooptação pemedebista, que cobiça a quarta força política no Congresso, o PSD de Gilberto Kassab, hoje ministro de Ciências e Tecnologia.


Nas últimas três décadas, o PMDB foi o intermediário que garantia maiorias governistas no Congresso. Quis o destino e a inépcia petista que ele esteja agora no comando do país, sem que tenha de escolher um indubitável senhor político a servir. O PSDB tem três candidatos na parada e o PT tem como arma apenas o cacife declinante de votos de Lula. Como o então vice-presidente Michel Temer alertava em 2015, aproximava-se a hora de seu partido ter um candidato. E não é implausível que seja ele o próprio Temer, definição que dependerá da performance do governo na economia, ainda incerta.

Quando Temer comentou, na eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara, que iria "desidratar o Centrão", tinha vislumbrado não só aplainar o caminho do Congresso para a votação de projetos polêmicos, mas também um roteiro eleitoral. O PSD de Kassab, ironicamente o pivô da desastrada manobra da presidente afastada Dilma Rousseff para se livrar da dependência do PMDB, é por enquanto o parceiro preferencial do Planalto.

O recente tiroteio de parte do PSDB contra o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSB), é produto da dubiedade tucana em relação a Temer. Sem chances de concorrer ao Planalto dentro do PSDB, José Serra é beneficiado com o movimento da cúpula do PMDB em direção a Kassab, que já foi seu vice-prefeito. Estará em boa posição para disputar a eleição presidencial se Temer, de fato, não o fizer. As críticas a Meirelles, partidas de seus concorrentes tucanos, o ajudam, caso Meirelles ambicione a cadeira presidencial.

O PSDB vive o dilema que decorre do apoio a Temer. Amarrando seu destino a ele, sofrerá o desgaste se a receita econômica desandar, sem colher os louros de um governo bem-sucedido na transição. Essa é a sina de Aécio Neves, mas nem tanto a de Geraldo Alckmin, outro presidenciável tucano, que mantem prudente afastamento do governo federal, enquanto dá golpes de força na máquina tucana em São Paulo e impõe seu candidato João Doria à sucessão paulistana.

Quando seu prestígio político era alto, o PT fechou uma alternativa à esquerda e agora, em declínio, os grupos que poderiam disputar sua herança eleitoral vão divididos às urnas, caso do PSOL e da Rede, de Marina Silva. O PSB, que disputou com Marina a eleição de 2014, continua correndo em raia própria e lançará número recorde de candidatos às prefeituras (Valor, 6 de agosto).

A dispersão política é a marca registrada do pleito municipal. Sempre foi assim, mas agora o processo se radicalizou, sem as grandes coligações entre si dos maiores partidos. São Paulo é um exemplo, o Rio, outro. Na capital paulista será testada a aliança PMDB-PSD, incubada no Planalto. O PMDB só se aliará ao PSDB em 4 capitais e deixará de lado o PT. O PMDB não faz "aliança nacional inibindo realidades locais", disse o veterano pemedebista Moreira Franco. Isto é, as "realidades locais" alavancarão em boa medida a aliança nacional.

Os maiores partidos vão separados às eleições em um clima de generalizado desgaste dos políticos. Há, assim, espaço para candidatos não claramente vinculados às máquinas partidárias tradicionais. Um cenário de consolidação do governo transitório reduzirá esse espaço. O contrário aumentará exponencialmente a chance deles.

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