- Folha de S. Paulo
Marielle dividia plenário da Câmara com suspeitos de ligação com criminosos
Há dez anos, a CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio mostrou alguns detalhes da infiltração desses criminosos na política do estado. A partir de depoimentos e denúncias anônimas, a comissão constatou que os grupos ganharam força “quando seus líderes passaram a ocupar posições dentro da administração pública” fluminense.
Segundo relatório produzido em 2008, alguns milicianos cobravam taxas de moradores para financiar ilegalmente os candidatos que pretendiam eleger. Além disso, delimitavam áreas proibidas de campanha, destruíam cartazes de adversários e até ameaçavam moradores para forçá-los a votar nos nomes apadrinhados por esses grupos.
O objetivo dos criminosos era ocupar o Legislativo e o Executivo, em busca de blindagem política para suas atividades. As milícias acreditavam que, assim, poderiam tocar sem incômodo as estruturas de poder paralelo que dominam bairros, favelas e conjuntos habitacionais.
Na ocasião, a CPI presidida pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) pediu o indiciamento de cinco parlamentares. Nos anos seguintes, três deles foram presos e um, assassinado. O quinto concorreu a uma vaga de vereador em 2016, mas não conseguiu se eleger.
Os aparentes laços entre milicianos e políticos revelados nas investigações sobre o assassinato de Marielle Franco —que assessorou Freixo naquela CPI— mostram que pouco mudou na última década.
A vereadora, morta há quase dois meses, dividia o plenário da Câmara Municipal do Rio com Marcello Siciliano (PHS). Uma testemunha diz ter visto o parlamentar planejando o crime com o líder de uma milícia. Siciliano diz que o relato é mentiroso.
O ministro Raul Jungmann (Segurança Pública) afirmou que a apuração do assassinato está chegando à “etapa final”, mas seria melhor se fosse apenas o começo. A intervenção federal no Rio é uma boa oportunidade para eliminar blindagens políticas e investigar a fundo as milícias que dominam o estado.
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