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Muhammad Ali x George Foreman, 1974
Queriam o quê? Que Lula, menos de 24 horas depois de ter sido solto, falasse moderadamente para um país que não o ouvia há 580 dias? Que fosse mais Lulinha paz e amor do que a jararaca que ficou enjaulada tanto tempo e que se diz inocente?
Lula reapareceu em São Bernardo com um único objetivo: retomar o comando de sua tropa. Foi para ela que falou, não falou para os que o detestam, nem mesmo para os que no futuro poderão ou não segui-lo. Um general de pijama, sem tropa, não vale nada.
Falou o que ela esperava ouvir. Mexeu com seus brios. Animou-a. E avisou aos interessados que passará os próximos 20 dias preparando um pronunciamento que fará ao país. Algo mais bem pensado e que dessa vez não contemple apenas os convertidos.
Estava em boa forma. Reinseriu os pobres na agenda de discussões que passa ao largo deles desde que Bolsonaro e Paulo Guedes subiram a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez. Ensinou que sem povo nas ruas as coisas ficam como estão.
Horas antes do reencontro de Lula com os petistas de raiz, Bolsonaro comportara-se mais ou menos da mesma forma. Convocou os seus a se reagruparem para combater “o canalha” que fora solto. Não citou o nome de Lula, nem precisava.
Lula livre deverá travar a língua de Bolsonaro. Ou deveria. Porque, sem responsabilidade de governo, Lula pode dizer o que lhe vier à cabeça. Bolsonaro, não. O presidente é ele. E qualquer passo em falso que dê o prejudicará, e por extensão ao país.
Nos últimos 10 meses, Bolsonaro governou com céu de brigadeiro. Sem oposição. Sem rebeliões de monta às suas costas. As confusões que enfrentou foram criadas por ele mesmo ou por seus filhos. Uma oposição abatida a tudo assistiu inerte e perplexa.
Se Bolsonaro não entender que a situação mudou e que está na hora de descer do alto dos seus sapatos, pagará um preço caro. Se não for capaz de assimilar golpes sem perder o controle e sem ir à lona, se arriscará a ver rolar morro abaixo a ideia de se reeleger.
Algum assessor de Bolsonaro deveria ler para ele o relato do escritor americano Norman Mailer sobre a luta monumental entre Muhammad Ali e George Foreman, no Zaire, África, em 1974, pelo título mundial dos pesos-pesados.
É considerada a mais inesquecível da história do boxe de todos os tempos. Ali perdera o título por ter se recusado a lutar a guerra do Vietnã. Então desafiou Foreman, seu sucessor, uma máquina de disparar socos. Retomou o título quando parecia derrotado.
Se quiser reunificar os cinturões, Bolsonaro deveria estudar a estratégia que Ali usou para vencer Foreman. Mais não conto porque seria spoiler.
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