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Ministro ataca autores de ameaças a juízes
O presidente Jair Bolsonaro aproveitou sua live semanal no Facebook para orientar o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, sobre o que fazer com o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril último onde ele, segundo o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, ameaçou intervir politicamente na Polícia Federal.
Celso tem três opções: autorizar a divulgação do vídeo na íntegra; ou apenas os trechos que têm a ver com a denúncia feita por Moro quando pediu demissão; ou manter o vídeo em segredo. A maiorias dos seus colegas aposta que ele autorizará a divulgação na íntegra. A decisão deverá ser anunciada hoje até o fim da tarde.
Bolsonaro fez um apelo público ao ministro para que vete a divulgação na íntegra. E garantiu, referindo-se à imprensa: “Vocês vão perder, eu estou adiantando a decisão do ministro Celso de Mello. Não tem nada, não tem nenhum indício de que eu interferi em processo da Polícia Federal naquelas duas horas de fita”.
Em seguida, como se se dirigisse ao ministro, orientou: “Tem questões reservadas [no vídeo], tem particularidades de interesse nacional. Tem dois pedacinhos de 15 segundos que são questões de política externa e que não pode divulgar.” Quando ao resto: “Divulga! E tem muito palavrão. Se divulgarem, tirem as crianças da sala”.
Ficou claro o receio de Bolsonaro com a quantidade de palavrões que ele disse e que poderão chocar, prejudicando ainda mais a sua imagem. Então ele recomendou: “Às vezes sai um palavrão, sem ofender ninguém. Não é o caso de tornar isso público, senão vão falar: vê se esse homem está à altura do cargo que representa”.
Celso guarda silêncio sobre o caso desde que foi sorteado para presidir o inquérito aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República. Mas ao saber que as caixas de mensagens de tribunais de Brasília estão abarrotadas com ameaças anônimas de morte a juízes, não resistiu e ditou ontem à tarde para publicação:
– [Seus autores] são bolsonaristas fascistóides, além de covardes e ignorantes. Revelam, com tais ameaças, a sua face criminosa, própria de quem abomina a liberdade e ultraja os signos da democracia.
Vem aí mais um vídeo campeão de audiência.
Está a prêmio a cabeça do polêmico ministro da Educação
Divulgação de vídeo poderá selar sua sorte
Se rolarem cabeças, caso o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, divulgue na íntegra o vídeo da reunião ministerial de abril último, a do ministro Abraham Weintraub, da Educação, deverá ser a primeira. Como será possível mantê-lo no governo depois que ele for visto nas redes de televisão defendendo a prisão de todos os colegas de Celso, e também a dele?
A confirmar-se, Weintraub chamou os ministros do Supremo de ladrões, e não satisfeito, Brasília de “cancro” que deveria ser extirpado. Cancro é uma doença sexualmente transmissível. Será interessante observar a reação do presidente Jair Bolsonaro e dos demais ministros ao que disse Weintraub. Eles riram? Se indignaram? Ou permaneceram impassíveis?
É certo que Bolsonaro riu muito quando Ernesto Araújo, o diplomata que virou ministro das Relações Exteriores sem nunca ter sido embaixador, afirmou que o covoronavírus estava mais para “comunavírus”, uma vez que surgiu na China comunista. Os demais ministros riram também? Mantiveram-se impassíveis? Algum pediu respeito ao maior parceiro comercial do Brasil no mundo?
A cabeça do ministro da Educação já estava a prêmio antes de ele ter dito o que lhe atribuem. E o preço a ser pago por ela valerá a pena para Bolsonaro. Weintraub, que deve o cargo ao autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, guru da família presidencial, não é só polêmico em excesso, é também considerado o mais fraco e criador de problemas dos 22 ministros do governo.
Há muito tempo que os ministros militares com gabinetes no Palácio do Planalto pressionam Bolsonaro para que o demita. Weintraub se opôs à entrega de cargos no seu ministério ao Centrão, o grupo de partidos mais fisiológicos com representantes na Câmara e no Senado. Acabou sendo obrigado por Bolsonaro a cedê-los. O Centrão está de olho na vaga que poderá se abrir com a saída dele.
A remoção do cancro – ou melhor: de Weintraub – poderia dar a entender ao país que o presidente e o seu governo tenderiam, afinal, a se normalizar. A abertura de um eventual processo de impeachment talvez perdesse fôlego. Quando nada, Bolsonaro ganharia tempo para trocar outras peças defeituosas e seguir em frente. Nem mesmo à oposição sua queda interessa. Ela teme a ascensão do vice.
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