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E pede para ser lembrado pela escolha que fez de deixar o governo
Definitivamente, o último fim de semana não foi dos melhores para o presidente Jair Bolsonaro. Jamais apanhou tanto nas redes sociais como na noite da sexta-feira logo depois da exibição do vídeo que prova que ele interferiu politicamente na Polícia Federal e que é capaz de dizer 37 palavrões em pouco mais de duas horas de reunião.
No sábado, ainda sob o impacto das críticas, visitou um dos ministros e um dos seus filhos numa quadra residencial da Asa Sul, em Brasília. Comeu um cachorro quente no meio da rua para mostrar que se comporta como um homem comum. À chegada e à saída às pressas, foi recepcionado pelo tilintar de panelas e ouviu desaforos.
No domingo pela manhã, sobrevoou de helicóptero a Esplanada dos Ministérios para avaliar o tamanho de mais uma manifestação a seu favor encomendada aos devotos de sempre. Deu-se conta que era pequena. À noite, recolhido ao Palácio da Alvorada, ligou a televisão e enfureceu-se com mais um golpe que Sérgio Moro lhe aplicou.
Desta vez, em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, Moro acusou Bolsonaro de ter enfraquecido a agenda de combate à corrupção, uma de suas mais caras promessas de campanha. E de recusar-se a enxergar o verdadeiro tamanho da tragédia provocada pela pandemia do Covid-19. Moro chamou-o de “negacionista”.
Ao governo, segundo Moro, talvez devido à posição pessoal de Bolsonaro, faltou um plano para enfrentar a doença. E continua faltando. Bolsonaro errou ao demitir em meio à pandemia dois ministros da saúde em pouco mais de um mês. Como erra, agora, ao se aliar a políticos de reputação duvidosa para não cair.
Perguntando por que, durante a reunião ministerial de abril último, nada disse quando ouviu o ministro da Educação achincalhar o Supremo Tribunal Federal, e o do Meio Ambiente sugerir o desmonte de regras contra o desmatamento uma vez que a imprensa só tinha olhos para o vírus, Moro respondeu mais ou menos assim:
– Aquele ambiente era desfavorável ao contraditório.
E por que nada disse quando Bolsonaro deu a entender que interviria na Polícia Federal e aproveitou para olhar na sua direção? Moro voltou a repetir que o ambiente era marcadamente desfavorável ao contraditório. Se conhecia a biografia de Bolsonaro, por que Moro aceitou o convite para servir ao seu governo?
– Eu tinha uma missão a realizar – respondeu.
Arrependeu-se de ter aceitado o convite?
– Fiz uma escolha, como fiz a escolha de sair. Espero ser lembrado por essa…
Por fim, como de hábito, driblou a pergunta sobre se será ou não candidato nas eleições de 2022. Só não será se lhe faltaram condições para tal. Se não for, estará do lado oposto ao de Bolsonaro.
Weintraub pede a palavra mais uma vez e pode perder a cabeça
Ministro se explica e se complica
Onde antes se leu:
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em reunião de 22 de abril último com os demais colegas e o presidente Jair Bolsonaro, chamou de “vagabundos” os ministros do Supremo Tribunal Federal e disse que eles deveriam ser presos;
Leia-se agora:
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em reunião de 22 de abril último com os demais colegas e o presidente Jair Bolsonaro, chamou de “vagabundos” alguns dos ministros do Supremo Tribunal Federal e disse que eles deveriam ser presos.
Foi o próprio Weintraub quem pediu a retificação. Afirmou, sem perder a pose, que interessados em desestabilizar o país manipularam sua fala original. Como se uma fala dele, por mais criminosa que tenha sido, fosse capaz de desestabilizar o país.
O ministro dá-se uma importância que jamais teve. Está no cargo por indicação do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru da ensandecida família Bolsonaro. Ao mesmo tempo, tenta subtrair importância à declaração que de fato fez.
Está no vídeo que Bolsonaro e sua malta se empenharam, sem sucesso, em ocultar. Weintraub não se referiu a alguns dos ministros do Supremo. Referiu-se a todos. Se sua intenção era referir-se a alguns, pouco importa. Vale o que foi gravado.
Só por curiosidade: não seria o caso de o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo, intimar Weintraub para que nomeie os ministros que quis ofender quando disse o que disse? E para que apresente provas capazes de sustentar o que disse?
Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, aconselhou Bolsonaro a demitir Weintraub. Era o que ele faria, garantiu, se estivesse no lugar do presidente. Bolsonaro ouviu Weintraub sem reagir porque pensa como ele.
Celso de Mello, que preside o inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, pediu aos demais ministros do Supremo que se manifestem sobre se sentiram ou não ofendidos por Weintraub, seja na versão 1 ou na versão 2.
Como ficará a imagem da Justiça se os ministros do Supremo responderem que não se sentiram ofendidos? Ou se preferirem guardar silêncio a respeito? Então liberou geral para que qualquer pessoa repita impunemente o que disse Weintraub.
Preocupado em salvar a própria face, como se isso fosse possível a essa altura, Bolsonaro quis procurar Toffoli para se explicar. Toffoli escapou de compartilhar o vexame: internou-se para a retirada de um abcesso. Pode ter sido infectado pelo Covid-19.
O bolsonavírus não poupa ninguém.
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