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O pior ainda está por vir
Por onde começar o relato sobre os últimos dias que o presidente Jair Bolsonaro gostaria de esquecer, e sobre os próximos que gostaria de evitar? Pela lambança dos números do coronavírus que destruiu o que restava de credibilidade ao Ministério da Saúde?
Pelas acanhadas manifestações contra o governo que ainda assim serviram para mostrar que os devotos do presidente perderam o monopólio das ruas? Ou por mais uma derrota que Bolsonaro colherá, esta semana, no Supremo Tribunal Federal?
Deixo para o texto seguinte a ameaça do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro, de detonar o governo caso não o ajudem com dinheiro para pagar a conta de tantos processos que já perdeu na justiça. Olavo pede socorro.
Bolsonaro não tem a quem pedir socorro porque as dificuldades que enfrenta foram criadas por ele mesmo. Seu amigo de fé, camarada, o presidente Donald Trump, passou a citar o Brasil como um mau exemplo na guerra contra o Covid-19. E com razão.
A bancada do Partido Democrata em uma das comissões técnicas mais importantes do Congresso despachou uma carta a Trump se opondo a acordos comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil. Nada de moleza com um governo claramente antidemocrático.
O acordo Mercosul-Comunidade Econômica Europeia depende do consentimento unânime dos países europeus para entrar em vigor. O parlamento da Holanda votou contra o acordo. A política ambiental do Brasil (ou a falta dela) só inspira desconfiança.
Maior parceiro comercial do Brasil no mundo, a China dá sinais de que sua paciência com o governo Bolsonaro só faz diminuir. O ministro Abraham Weintraub, da Educação, voltou a ofender publicamente a China depois de depor na Polícia Federal.
Foi mais fácil para Bolsonaro livrar-se do ex-ministro Sérgio Moro, da Justiça, do que será livrar-se de Weintraub, indicado para o cargo pelo guru que agora cobra pelo apoio que dá ao governo. Bolsonarista de raiz cultua Weintraub e se espelha nele.
Onde no domingo foram vistos os terroristas, subversivos e marginais que o presidente disse que dariam as caras nas manifestações convocadas por uma fração ínfima da oposição? Se eles existem, preferiram ficar em casa. Tudo correu em ordem.
É de se imaginar o que deverá acontecer quando a pandemia se esgotar, a oposição ganhar coragem e as pessoas voltarem a circular sem o risco de perder a vida. A essa altura, a economia estará mais fraca e o desemprego muito mais forte.
A essa altura também o recesso do Congresso terá chegado ao fim e as eleições municipais estarão à vista. Haverá melhor saco de pancadas do que Bolsonaro? Que chances de se eleger terá um candidato a prefeito que se ocupe em defender o presidente?
O sócio número um do vírus ordenou que o Ministério da Saúde ocultasse a maioria dos números sobre a tragédia. Como pegou mal, liberou a divulgação. Como o número de mortos nas últimas 24 horas o desagradou, ordenou que fosse reduzido.
Quer prova maior de sandice? De vocação para ditador? Por ordem dele, a Controladoria Geral da União tornou sigilosos pareceres jurídicos produzidos por ministérios para orientar a presidência na sanção ou em vetos de projetos aprovados pelo Congresso.
A Lei de Acesso à Informação está indo para o lixo. Bolsonaro só quer informações para ele. Daí seu avanço sobre o aparelho de inteligência do Estado. Bolsonaro ainda não disse que ele é o Estado. Mas já disse que a Constituição é ele.
Nos próximos dias, o Supremo Tribunal Federal dirá não ao pedido de Bolsonaro para arquivar o inquérito que investiga o financiamento e a distribuição de notícias falsas nas redes sociais. Punir quem faça isso é ferir a liberdade de expressão, segundo ele.
Por trás da operação há empresários bolsonaristas. Mas o que mais preocupa Bolsonaro é o envolvimento dos seus filhos. O inquérito poderá alcançar Olavo de Carvalho. E Olavo é desequilibrado o suficiente para retaliar desequilibrando o governo.
Operação para salvar Olavo de Carvalho da falência
Guru dos Bolsonaro pede ajuda e ameaça o presidente
Pede-se às almas caridosas do país, principalmente àquelas embriagadas pelos ensinamentos que o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho destila à distância segura a partir dos Estados Unidos, que o ajudem a pagar a conta de mais de quase R$ 3 milhões por processos movidos por quem ele ofendeu.
É da natureza do guru da família Bolsonaro caluniar, injuriar e difamar quem atravessa seu caminho. Quem não atravessa também. O cantor Caetano Veloso foi um dos seus alvos. A justiça mandou que Olavo o indenizasse. Quem o segue nas redes sociais sabe que Olavo é uma boca suja.
Foi usando expressões porcas que ele, ontem, por meio de um vídeo postado nas redes sociais, ameaçou derrubar a “merda do governo Bolsonaro” e mandou o presidente “enfiar no cu” a medalha com a qual o condecorou no ano passado. Olavo sente-se abandonado pelo presidente e por seus filhos. E traído.
Detestou a nomeação da atriz Regina Duarte para Secretária de Cultura do governo. No lugar, ele queria pôr mais um dos seus discípulos. Receia ser traído outra vez com a possível demissão de Abraham Weintraub do Ministério da Educação. A área de compra de livros didáticos do ministério interessa a Olavo sobremaneira.
“Bolsonaro, o que ele fez para me defender? Bosta nenhuma! Chega lá, me dá uma condecoraçãozinha…” desabafou Olavo. “Essas multas que esses caras estão cobrando de mim vão me arruinar totalmente. Como é que eu vou poder sobreviver aqui nos Estados Unidos sem nenhum tostão furado?”
O empresário Luciano Hang, dono da Havan, conversou com Bolsonaro a respeito e deu início a uma vaquinha com empresários para saldar as dívidas de Olavo. Por ora, não está sendo bem-sucedido. Filantropia anda em baixa em tempos de vírus e de empresas em dificuldades.
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