domingo, 18 de outubro de 2020

Em vitória histórica, Jacinda Ardern é reeleita primeira-ministra na Nova Zelândia

Governante ficou conhecida internacionalmente por combate à pandemia; esta é a maior conquista nas urnas de seu partido em quase meio século

 Wellington (Nova Zelândia) | Reuters / Folha de S. Paulo

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, foi reeleita neste sábado (17), dando ao seu Partido Trabalhista a maior vitória eleitoral em meio século.

Com 95% da apuração concluída, a sigla de centro-esquerda contava com 49% dos votos, muito à frente do Partido Nacional, com 27%, segundo a Comissão Eleitoral.

A legenda da primeira-ministra pode sair das eleições com 64 das 120 cadeiras no Parlamento, o recorde de qualquer partido desde que o país adotou o sistema de votação proporcional, em 1996. Será também o primeiro governo de partido único sob o sistema.

“Estamos vivendo em um mundo cada vez mais polarizado”, disse Jacinda, ao reconhecer sua vitória. "Um lugar onde mais e mais pessoas perderam a capacidade de ver o ponto de vista uns dos outros. Espero que, com esta eleição, a Nova Zelândia tenha mostrado que não somos assim."

Jacinda, 40, virou celebridade global após ganhar destaque neste ano pelo trabalho de combate à pandemia de Covid-19. Ela era a favorita na disputa contra Judith Collins, do Partido Nacional.

Em discurso pela TV local, a adversária admitiu a derrota e parabenizou Jacinda, por telefone, por considerar o resultado excepcional para o Partido Trabalhista.

Após o reconhecimento da vitória, a primeira-ministra disse que seu Partido Trabalhista ganhou um mandato para liderar o país e acelerar sua resposta à pandemia.

"A Nova Zelândia mostrou ao Partido Trabalhista seu maior apoio em quase 50 anos", disse. "Não consideraremos seu apoio garantido. E posso prometer que seremos um partido que governa para todos os neozelandeses".

Em sua campanha, Jacinda prometeu aos apoiadores que construiria uma economia que funcionasse para todos, criaria empregos, treinaria pessoas, protegeria o meio ambiente e enfrentaria os desafios climáticos e as desigualdades sociais.

No cargo há três anos, ela viveu diversos episódios que consolidaram sua imagem como uma política com empatia e sensibilidade. Meses após assumir seu mandato, anunciou que estava grávida e não abriu mão de tirar seis semanas de licença-maternidade. Deixou o país na mão de seu vice.

Em 2019, foi elogiada ao transmitir sentimentos de conciliação e união nacional a uma população traumatizada com o massacre de 51 pessoas por um extremista em duas mesquitas na cidade de Christchurch. Após a matança, armas semiautomáticas foram banidas no país.

Nada que se comparasse, no entanto, a como ela lidou com a pandemia, o que projetou seu nome internacionalmente. A Nova Zelândia virou exemplo mundial de combate à doença, com quarentena rígida, ampla testagem e uma estratégia de comunicação eficiente.

Em uma pesquisa de opinião da Universidade Massey em julho, a primeira-ministra recebeu nota 8,45 numa escala de 0 a 10 por seu desempenho contra a Covid-19.

A eleição deveria ter sido realizada em 19 de setembro, mas foi adiada após uma nova onda de infecções de coronavírus em Auckland, que levaram a um segundo bloqueio na maior cidade do país.

Cerca de 3,5 milhões de pessoas se registraram para votar. A Nova Zelândia tem leis muito rígidas no dia de votação, restringindo a cobertura da mídia e a propaganda política enquanto as urnas estão abertas, para evitar que os eleitores sejam influenciados.

Aproximadamente 1,7 milhão de pessoas votaram antecipadamente, uma proporção muito maior do que no pleito anterior.

Embora conhecida internacionalmente por promover causas progressistas, como os direitos da mulher e a justiça social, Jacinda enfrentou críticas internas de que seu governo falhou em cumprir transformações sociais.

Por conta da crise sanitária global, as fronteiras da Nova Zelândia ainda estão fechadas, e o setor de turismo sofre. Economistas preveem uma recessão duradoura após os severos bloqueios.

A economia encolheu a uma taxa anual de 12,2% no segundo trimestre, queda mais acentuada desde a Grande Depressão. A dívida deve aumentar para 56% do PIB, sendo que antes da pandemia era de menos de 20%.

Os neozelandeses também votaram neste sábado em referendos para legalizar a eutanásia e a maconha recreativa, com resultados a serem anunciados em 30 de outubro. A Nova Zelândia pode se tornar o terceiro país do mundo a permitir o uso e venda de cânabis em todo o seu território, depois do Uruguai e Canadá.

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