É
a nossa maneira de homenagear o centenário de nascimento de Paulo Freire que, por
toda a vida, buscou a inclusão social, através da educação, como o caminho mais
democrático de transformação da sociedade. Lembrando ainda Anísio Teixeira e Darci
Ribeiro, referências quando se fala em educação no Brasil, e o nosso incansável
Cristovam Buarque, quixotes de uma educação a ser construída com a participação
efetiva dos que, no dia a dia, fizeram e fazem a educação no Brasil.
Discussão
oportuna face a atual realidade brasileira, em plena pandemia, desafiada a
transformar o sistema nacional de educação frente à nossa difícil realidade
política, econômica, social e ambiental, comprometendo as forças democráticas a
pautar a questão da educação como um dos fundamentos de um Programa de Governo
reformista a ser construído para as próximas eleições presidenciais, em 2022,
com a participação efetiva da sociedade.
A
educação brasileira continua enfrentando sérias dificuldades que vão se ampliando
neste segundo ano de Covid-19, nos colocando o imperativo de avaliar o atual
sistema educacional brasileiro nas suas vulnerabilidades e potencialidades,
durante e pós Pandemia.
A
sociedade contemporânea é herdeira da revolução industrial quando a ciência, a
tecnologia e a educação profissionalizante começam a ser incorporadas nos
processos de produção e distribuição de mercadorias, transformando o cotidiano
da humanidade, construindo novas relações políticas, econômicas, sociais,
culturais e espirituais da sociedade entre si e com a própria natureza.
Desde então, a base técnica, científica e educacional construída criou as condições materiais de resolver a maioria dos problemas sociais, econômicos e ambientais existentes, inclusive os desafios educacionais enfrentados hoje pelo Brasil e por toda a humanidade. A internet, a robótica, a micro-eletrônica, as tecnologias de informação, os novos materiais e as energias renováveis entraram definitivamente nas nossas vidas, transformando as relações sociais estabelecidas, modificando a maneira de ser e estar das pessoas em sociedade.
Como
os que trabalham com educação, o alunato e a sociedade em geral estão dialogando
e vivendo estas novas realidades educacionais em plena Pandemia e quais seriam
os desafios imediatos da educação brasileira?
Os
educadores, as organizações acadêmicas, científicas e tecnológicas estão desafiados
a enfrentar e superar os antigos e novos dilemas em defesa de uma educação pública
de qualidade frente às transformações em curso que estão acontecendo nesta área.
As atividades educacionais, hoje realizadas à distância, deverão continuar e ter
um papel de destaque durante e pós a Pandemia, podendo consolidar-se um sistema
híbrido presencial e à distância, refletindo as mudanças e as novas relações entre
formas, conteúdos e resultados pedagógicos diante desta nova realidade.
O
que deve permanecer e o que deve mudar em relação à educação brasileira?
A
partir da Constituição de 1988, melhorias vêm acontecendo, inclusive com alguns
bons resultados, nos últimos anos. No entanto, em uma velocidade que fica muito
a desejar considerando a atual realidade educacional – são mais de 10 milhões
de analfabetos no Brasil, além dos analfabetos funcionais. Ainda há que
considerar os impactos causados pela própria Pandemia e os desafios econômicos,
sociais e ambientais da maioria da sociedade e a necessidade de colocar a
educação como fundamento estratégico de afirmação e transformação da sociedade
brasileira frente à sociedade mundial.
A inexistência de um Sistema Nacional de
Educação (SNE) dificulta e muito uma visão mais abrangente da educação
brasileira, a curto, médio e longo prazos. Embora previsto já na Constituição
de 1988 e no artigo 13 da Lei que institui o Programa Nacional de Educação (PNE),
o SNE - que deveria ser constituído até 2016 - ainda não o foi no Brasil.
Assim,
as demandas e as contradições da educação brasileira vão se acumulando nas
últimas décadas, hoje desnudadas com a Pandemia, impondo mudanças urgentes frente
à nossa realidade. Como não destacar, por exemplo, uma dessas maiores
contradições: em geral, as melhores Escolas de Educação Básica no Brasil são
privadas e as melhores Universidades são públicas - uma parcela significativa
dos estudantes de Escola Pública, do ensino básico, vão estudar à noite, em faculdades
privadas, muitos sem direito a diploma no final do curso, por não serem
reconhecidas pelo Ministério da Educação.
Portanto,
é urgente a criação de um Sistema Nacional de Educação como espaço institucional
de diálogo com todos os atores políticos, econômicos e sociais que nos leve à
equidade educacional como política de Estado e de toda a Sociedade no caminho da
otimização dos recursos materiais e da inteligência nacional em prol de uma educação
de qualidade no Brasil.
Neste
contexto, deve-se incorporar todas as experiências educacionais bem sucedidas
nos últimos anos no Brasil. Sejam elas da área federal, estadual ou municipal
como também de escolas privadas ou mantidas por fundações e ONGs educacionais.
A partir de parâmetros educacionais federais, todas estas escolas e universidades
seriam avaliadas e incorporadas, quando bem avaliadas, ao Sistema Nacional de
Educação ora proposto.
Neste
processo de transição para a construção de uma educação de excelência no
Brasil, com foco nas regiões de menor Índice de Desenvolvimento de Educação
Básica (IDEB), a área federal deverá ter um papel de destaque. A estratégia de federalização
da educação pública brasileira aconteceria em função das prioridades destacadas
no próprio PNE, criando as condições para a melhoria do IDEB em níveis e conteúdos
educacionais de excelência, compatíveis com as demandas educacionais dos Estados
e Municípios, considerando a realidade social e econômica onde estão inseridos.
Assim,
o Governo Federal deveria também assegurar, de maneira permanente, os recursos
financeiros, a viabilidade técnica e pedagógica do planejamento e da gestão das
demandas federais, estaduais e municipais que alavancariam as regiões de menor
IDEB, em cooperação com o Estado e os Municípios da região em questão. Aqui as
experiências educacionais bem sucedidas das Fundações, ONGs e Organizações
privadas seriam avaliadas a nível federal e, quando aprovadas, incorporadas
neste esforço nacional de melhoria da educação pública brasileira.
O
conceito de sustentabilidade social, econômica e ambiental nos ajuda nesta construção.
Deve nortear, de uma maneira transversal, todo o processo de elaboração e viabilização
de uma política de educação no Brasil, considerando as distintas realidades
sociais, econômicas e ambientais nos planos nacional, estadual e municipal, como
instrumento de transformação da vida de cada uma das crianças e da juventude brasileira,
em todo o território nacional.
O
Governo Federal, dialogando com as diversas representações existentes na área de
educação do Estado, do mercado e da sociedade civil em geral, deve com a
urgência devida realizar uma ouvidoria da realidade atual da educação
brasileira, a partir da educação básica, diagnosticando os avanços e limites do
atual PNE.
A
partir do conhecimento da realidade atual da educação pode-se construir, em
discussão com a sociedade brasileira, um Sistema Nacional de Educação que venha
a implementar um Plano de Metas Educacionais para o horizonte dos próximos 5,
10, 20, 30 anos.
São
os desafios de uma nova política de educação para o Brasil que devem avaliar a
realidade educacional existente, a instabilidade vivida atualmente pelo próprio
Ministério de Educação, sem uma política nacional clara para enfrentar os
complexos desafios da nossa realidade educacional, funcionando sem a devida
integração com os Estados e Municípios, demonstrando como o Governo Federal
enfrentou e está enfrentando a situação educacional já no segundo ano de
Pandemia. As perdas de aprendizado, individuais e coletivas, são significativas
e ainda estão por ser devidamente avaliadas. Esta situação tem atingido
diretamente os(as) trabalhadores(as), os(as) educadores(as) e os milhões de
alunos(as) de escolas públicas que continuam sem as condições de estudar à
distância, em suas casas, desorientando-os(as) e sem um devido apoio governamental
que os(as) ajude a superar esta triste e preocupante realidade.
Esta
situação tem atingido diretamente os(as) trabalhadores(as), os (as) educadores(as)
e os milhões de alunos(as) de escolas e universidades públicas que continuam
sem as condições de estudar à distância em suas casas, desorientados(as) e sem
um devido apoio governamental que os(as) ajude a superar esta triste e
preocupante realidade.
A
agenda nacional da área de educação, a ser pactuada pela sociedade brasileira,
deve realizar as reformas educacionais, pensando a educação brasileira no
presente e no futuro imediato, considerando as suas especificidades e as desigualdades
regionais. A construção de um modelo educacional nacional deve incorporar a
educação, a ciência e a tecnologia como valores estruturantes e estratégicos,
integrado a um projeto nacional para a melhoria da qualidade de vida da
infância e da juventude dos brasileiros e brasileiras com uma atenção devida
aos(às) professores(as) e trabalhadores(as) da área de educação.
Finalmente,
a agenda nacional da área de educação, a ser pactuada pela sociedade brasileira,
deve enfrentar os reais problemas educacionais agravados com a pandemia:
realizar as reformas educacionais pensando a educação brasileira no presente e
no futuro imediato, considerando as suas especificidades e os desafios
regionais. A construção de um modelo educacional nacional deve incorporar a
educação, a ciência e a tecnologia como valores estruturantes e estratégicos,
integrados a um projeto nacional para a melhoria da qualidade de vida da
infância e da juventude dos brasileiros e brasileiras, com uma atenção devida
aos professores e trabalhadores da área de educação.
São
os desafios a serem superados. Seremos capazes?
Uma contribuição recente para enfrentarmos os desafios e os dilemas da educação brasileira é a publicação e a discussão em andamento realizadas pela Fundação Astrojildo Pereira. A Revista Política Democrática, publicada recentemente: A Educação Presente e o Futuro, reúne textos e análises sobre o presente e o futuro da educação brasileira. Destaque-se o Manifesto: Por um Sistema Nacional Único de Educação, do Professor Cristovam Buarque, como uma colaboração efetiva nesta direção (Revista Política Democrática, ano XXI, nº 57, www.politicademocratica.com.br).
*Professor
Doutor da Oficina da Cátedra da UNESCO - Sustentabilidade
da UFBA e do Conselho do Instituto Politécnico da Bahia
2 comentários:
George, lutando dua e noite por um Brasil melhor. Bem haja
Paulo Freire fue estudiado en Argentina desde 1973. Perteneci a esos adolescentes que estudiaron " el método Freire". Luego hasta 1976 ( año del golpe genocida)dimos cursos a los adultos analfabetos, era una inmensa alegría cuando podían leer sus,primeras frases.
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