O Globo
Daqui até o fechamento da chamada janela de
troca de partidos, no início de abril, pré-candidatos, dirigentes partidários e
parlamentares vão se dedicar de forma intensiva a um jogo de cálculo que,
quando terminar, vai definir quem sobra no tabuleiro das candidaturas
presidenciais.
No grid atual,
quem trabalha mais intensamente nos bastidores para tentar se consolidar e, se
possível, interditar o caminho dos oponentes no mesmo campo são Sergio Moro,
João Doria e Simone Tebet. Enfrentam, do outro lado, a ampla vantagem do
ex-presidente Lula, que também tem feito investidas ousadas para atrair
expoentes desse chamado centro com o discurso da necessária reconstrução do
Brasil pós-Bolsonaro.
Doria é quem se move de forma mais ativa na tentativa de eliminar adversários. Para isso, conversa com próceres do União Brasil, do Podemos e do MDB para tentar dissuadi-los de lançar candidatos próprios. É uma estratégia que ele usou, com sucesso, nas prévias do PSDB, conseguindo atrair na última hora apoiadores comprometidos com Eduardo Leite.
Descrito como “obstinado” por aliados e adversários, o tucano tenta operar a mágica de ser visto como o mais viável para romper a polarização entre Lula e Jair Bolsonaro mesmo sem dar sinais de subir nas pesquisas.
A tentativa de construir uma aliança
partidária ampla tendo o governador de São Paulo como epicentro e desafiando as
pesquisas com expectativa de crescimento futuro não deu certo em 2018 com
Geraldo Alckmin, e isso também tem sido evocado por aqueles que se mostram
reticentes quanto às chances de Doria.
Moro, por seu turno, tenta vencer a extrema
má vontade com que sua pré-candidatura é vista nas hostes políticas. O ingresso
no União Brasil, jogada esboçada por ele, está cada vez mais difícil graças ao
veto explícito de dirigentes do antigo DEM — que, aliás, voltaram a ser
cortejados por Doria e até por Lula, que acenou a ACM Neto com um acordo para
facilitar sua eleição ao governo da Bahia em troca de ele não dar palanque a
Moro.
O desafio da senadora Simone Tebet é romper
a desconfiança histórica no real apetite do MDB por candidatura própria. Para
isso, ela conta com o apoio de lideranças respeitadas do PSDB, como o colega de
Senado Tasso Jereissati, e com o fato de que, desta vez, o partido montou para
ela uma equipe de pré-campanha competente e com carta branca para tentar
torná-la competitiva.
Março será o mês de auge dessa movimentação
pela “coagulação” das candidaturas, como definiu um veterano dessas
negociações. É o mês da janela, jeitinho criado pelos parlamentares para
driblar a fidelidade partidária que condiciona os mandatos aos partidos e também
a regra histórica de que candidatos não podiam mudar de legenda um ano antes
dos pleitos.
A janela aberta e o cálculo do fundo
eleitoral, praticamente a única fonte oficial de financiamento de campanhas
desde que o STF proibiu doações empresariais, são fatores a determinar um
leilão partidário em praça pública que deve alterar sobremaneira a atual
correlação de forças e mostrar, em abril, quem são os presidenciáveis que foram
jogados ao mar pela classe política, pelo fato de que candidatos a governador e
a deputado não vão querer atrelar seu destino e seus recursos a canoas furadas
que só drenem recursos e não sejam competitivas.
Enquanto travam essa disputa silenciosa entre si pela sobrevivência da candidatura, os nomes ao centro deixam Bolsonaro e Lula livres para avançar com suas estratégias. O presidente vai gastar tudo que puder e não puder para se recuperar nas pesquisas, com o Centrão no comando. Já o petista vai intensificar as conversas para se mostrar como o único capaz de reconstruir o Brasil do estrago bolsonarista, justamente porque os demais ainda não passam de nanicos.
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