O Estado de S. Paulo
Lula ainda não decidiu entre velha e nova política externa para seu governo
No domingo, dia 30, Lula tinha acabado de
ganhar a eleição, mas era essencial que governos dos países centrais
reconhecessem a vitória o mais rápido possível, ajudando a torná-la um fato
consumado incontestável. Foi então que o presidente francês ligou.
Passava das duas da manhã de segunda-feira, 31 de outubro, em Paris e era o próprio Macron que estava do outro lado da linha. Mas Lula nem ficou sabendo. Integrantes da velha-guarda do PT, Celso Amorim à frente, controlaram as demandas internacionais pelo presidente eleito. Deram preferência a Cuba, Bolívia e Argentina. E o secretário-geral da ONU recebeu o mesmo tratamento dispensado a Macron, ou seja, ficou para o dia seguinte.
Consta que Lula enfureceu-se ao saber do
ocorrido – mas já era tarde para devolver as duas ligações e, de qualquer
maneira, havia falado com o presidente americano Joe Biden, num esquema com
horário pré-acertado com diplomatas americanos. De lá para cá, Lula ainda não
decidiu uma ácida disputa doutrinária sobre os rumos da política externa.
Trata-se de um debate entre duas “escolas”
de pensamento num cenário global que se alterou profundamente. E que não
combina mais com o “antiamericanismo de grêmio estudantil”, como definem
integrantes da equipe de Lula a velha escola dos postulados Sul-Sul.
Se quiser que o Brasil volte ao centro,
ouviu Lula, o foco primordial deve ser Washington e Pequim. E não o antigo
circuito Buenos Aires-Santiago-La Paz, como foi imediatamente sugerido ao
presidente eleito pela desgastada escola de relações internacionais petista.
Ressuscitar grêmios como Celac e Unasul não faz mais sentido diante de uma
brutal mudança geopolítica representada pela invasão russa da Ucrânia.
Lula teria abandonado a visão inicial do
conflito, calcada nos surrados postulados de que, se Putin se opõe aos Estados
Unidos, então Putin tem razão e a culpada é a Otan. Por questão de princípio, o
Brasil jamais poderia concordar com a invasão de uma outra nação soberana,
ainda que tente se equilibrar entre beligerantes.
Ocorre que o espaço para esse equilíbrio
foi brutalmente reduzido pela piora da relação entre Estados Unidos e China, de
um lado, e pela postura que europeus, de outro, começam a exigir de seus
principais parceiros frente à invasão da Ucrânia. O alto do muro ficou
estreitinho.
Basta lembrar o que aconteceu com uma
decisão de governo petista: a compra de caças suecos para reequipar a FAB, em
vez dos F-18 da Boeing. Na época, a Suécia era um país de sólidas credenciais
de neutralidade. Hoje está entrando na Otan.
4 comentários:
Excelente artigo como sempre, muito bem lembrado.
Confio no Lula desconfiando do PT.
Já eu votei no Lula desconfiando dele e do PT!
O PT comete mais erros que o Lula.
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