O Globo
Caso das jóias sauditas replica padrão de
patrimonialismo, laranjas e desculpas esfarrapadas que ainda colam
O episódio das joias das Arábias, que a
cada dia ganha mais componentes novelísticos, não tem nada de inusitado em
relação ao modus operandi de Jair Bolsonaro e seu clã. Também não chega a
surpreender que Flávio Bolsonaro, ele próprio enredado em investigações ainda
longe de ser concluídas, diga que os objetos ofertados ao pai e à madrasta pela
família real saudita eram itens “personalíssimos”, independentemente do valor.
Para os Bolsonaros, a política sempre foi um meio personalíssimo de auferir
crescimento patrimonial.
O que espanta é o grau de desfaçatez das desculpas esfarrapadas. E que elas continuem “colando” com setores do eleitorado, ainda que esse séquito disposto a engolir qualquer esparrela vinda de Jair e filhos esteja visivelmente em declínio.
O caso da Val do Açaí, a funcionária da
casa de veraneio de Bolsonaro em Angra que era funcionária fantasma em seu
gabinete; o auxílio-moradia que o então deputado Jair recebia mesmo tendo
apartamento em Brasília; o caso das “rachadinhas” com dezenas de
familiares-fantasmas em todos os gabinetes da família; os cheques de Queiroz na
conta de Michelle; a mansão de Flávio e a de Cristina, ex-mulher de
Bolsonaro... São inumeráveis os casos de apropriação “personalíssima” de
dinheiro público pelo clã Bolsonaro, sempre com as explicações mais furadas
possíveis, uma boa dose de vitimização e altas doses de condescendência por
parte daqueles que, ignorando a realidade, ainda enchem a boca para dizer que,
vejam só, o agora ex-presidente pode ter os defeitos que for, mas não é
corrupto. Um caso único de descolamento da realidade.
Outra constante no histórico de
patrimonialismo, suspeitas de peculato, lavagem de dinheiro, agora descaminho e
outros potenciais crimes nunca investigados a fundo é a facilidade com que a
corporação Bolsonaro encontra laranjas em quem despejar a culpa quando
flagrada.
Já foi o próprio Queiroz, já foi a Val, já
foram as ex-mulheres de Jair e, agora, periga sobrar para o almirante Bento
Albuquerque, que aceitou, ao que tudo indica, servir de “avião” da muamba das
Arábias para o chefe e a mulher. Ele estaria disposto a mudar a versão que deu
— de que as joias eram destinadas a Michelle — em seus depoimentos futuros
sobre o caso, uma vez que esse episódio está sendo um entrave ao projeto
político-financeiro do PL de catapultar a ex-primeira-dama à política.
Em nome de que um almirante — demitido por
não atender às exigências eleitoreiras de Bolsonaro de meter a mão grande na
Petrobras e ditar a política de preços dos combustíveis às vésperas da eleição
— poderia estar disposto a se queimar (ainda mais) para proteger o casal? É
espantoso.
Como o telhado da verdadeira natureza do
projeto político-patrimonial da família Bolsonaro é de vidro não temperado,
outro componente da equação pela qual eles prosperaram até aqui é controlar os
responsáveis pela fiscalização e tapar a luz do sol com mecanismos de omissão
de dados, como os famosos decretos de sigilo de cem anos e afins.
Por isso a sofreguidão que Bolsonaro sempre
demonstrou por controlar postos em várias instâncias na Receita Federal, no
Coaf, na Receita Federal e em demais órgãos de Estado que pudessem representar
obstáculos a si e aos filhos.
Era muita coisa para preservar, o que ajuda
a explicar, com distanciamento histórico, a quantidade de piruetas dadas, com
aval do Congresso, do STF e até da oposição, para dar a Bolsonaro chance de se
reeleger. Percebe-se, agora que as informações estão vindo à tona, que havia
muito mais do que se sabia para manter às escondidas. E que muita gente se
dispôs a arriscar a própria pele para ajudar.
5 comentários:
Embolsonar verbas públicas, eis a verdadeira obsessão dos Bolsonaro!
Colaram muito pra você e pra grande imprensa. Por isso o genocida ganhou e estragou o Brasil.
Vc foi um dos "jornalistas" q quase REELEGERAM O PIOR Q ESTE PAÍS JÁ PRODUZIU.
Por exemplo: já sabíamos q ele, o bolsonaro, era pilantra. A imprensa nunca noticiou isso.
Vera sabe das coisas.
Genocida sim mas só ganhou por que a esquerda” rolou a bola” para ele com as lambanças que todos sabemos e tudo começou com aquela discussão ridícula do hoje genocida com a tresloucada deputada Maria do Rosário, aquilo o retirou das sombras e o fez candidato e o resto é tragédia.
Os árabes compraram uma refinaria a preço de banana (Guedes avaliou). Ad jóias são o capilé.
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