Para que isso ocorra, há necessidade de se estimular e fomentar a
imprescindível organização da sociedade, única forma segura de evitar rupturas
no processo democrático.
O povo brasileiro sempre foi excluído, tanto pelos militares como
pelas oligarquias, das decisões que lhe dizem respeito. E, ao que tudo indica,
aceitou passivamente essa condição excludente. E, sabe-se, sem uma estrutura de
organização popular uma democracia não se mantém.
Somente em raras oportunidades registraram-se movimentos sociais temporários para impor a vontade popular, a exemplo do que ocorreu nos anos 80, exigindo a redemocratização do País e o fim da longa ditadura militar.
Por consequência, a população brasileira, majoritariamente, não
está preparada para participar das discussões políticas que lhes dizem respeito
e, nem tampouco, para defender os seus direitos. Exemplo disso foram as
alterações introduzidas nos últimos anos nas legislações trabalhista e
previdenciária, que sabidamente foram promovidas para favorecer o empresariado,
quando a população, profundamente prejudicada, ficou à margem das discussões e
omitiu-se de defender os seus direitos.
Portanto, há um longo caminho a ser percorrido para que a
população brasileira, especialmente as camadas mais carentes da sociedade,
tenha condições de entender a sua realidade e passar a ter condições de
participar mais ativamente da busca de soluções para os problemas do País, em
especial para a redução das desigualdades sociais.
A população precisa ter consciência de que, numa democracia, a
participação social e política não se restringem ao voto. Hoje, a maioria da
população se deixa assediar eleitoralmente pelos poderosos, assina um cheque em
branco e autoriza que os eleitos não sejam de nada cobrados. Esta apatia
enfraquece a democracia e abre espaço para oportunistas e corruptos ocuparem a
seara política.
È necessário fazer esta parcela da população, hoje apática,
entender que valores como liberdade e igualdade, assim como a promoção pelo
Estado de uma política social adequada, não virão de graça, mas precisam ser
impostos por movimentos sociais fortes e coesos.
Sem este esforço de inclusão social, econômica e política dessa
população a frágil democracia brasileira estará sempre sujeita a sofrer
rupturas ou ameaças de ruptura, como a que assistimos nos últimos dias,
promovidas seja pelos militares, seja pelo poder econômico, em conluio com os
militares e com uma classe média inconsciente, sem noção de nacionalidade e sem
compromisso com o Estado Democrático de Direito.
Mas como alcançar a inclusão destas pessoas na democracia?
Entendemos que não adianta somente franquear espaços de
participação social, pois a população que mais precisa do Estado não tem
condições de neles atuar. Nem somente melhorar um pouco as condições de vida do
povo, sem desconhecer a importância dessas ações.
Precisamos, antes, preparar esta população para a participação
política e social. E deverá ser a própria sociedade civil, por meio de seus
segmentos mais conscientes, que deverá empreender um movimento social
estrutural, visando difundir e despertar a consciência popular para os valores
da democracia, das liberdades e da igualdade substantiva.
Ao governo cabe estimular e motivar a sociedade a se organizar,
alertando que a democracia é um sistema imperfeito, mutável, que precisa ser
permanentemente defendida e aperfeiçoada. Só assim ela poderá promover
benefícios reais para as pessoas.
*Geólogo, advogado e escritor
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