O Globo
Senador Eduardo Braga vai sugerir reduzir o
imposto cobrado de profissionais liberais definido na versão aprovada pela
Câmara
O relator da Reforma Tributária, senador Eduardo Braga, pode reduzir o imposto que seria cobrado de advogados, engenheiros e profissionais liberais na versão aprovada na Câmara. Braga acha que eles pagavam imposto de menos, eram subtributados, mas o texto fez o oposto e aumentou demais. Há outras mudanças que ele já tem em mente para colocar no relatório. Quer incluir no texto da Constituição pontos que a Câmara remeteu para Lei Complementar. Vai propor também que fique como comando constitucional o percentual máximo dos impostos. “O consenso é não haver uma carga tributária tão baixa que não financie o país, nem tão alta que leve à sonegação”.
Entrevistei o senador ontem para o meu
programa na GloboNews e ele esclareceu vários pontos do debate. As oito
audiências públicas que ele decidiu fazer apenas começaram, mas o relatório
será apresentado no final de setembro. Na opinião de Eduardo Braga, o Conselho
Federativo, que vai distribuir o dinheiro do Imposto sobre Bens e Serviços
entre estados e municípios, não pode ser um órgão político.
— Ele precisa ser simplesmente um órgão
repassador dos recursos de forma criteriosa, em uma base algorítmica e técnica.
Ser absolutamente técnico-administrativo. Não pode ser formulador de nenhuma
política pública.
Braga pensa em incluir na Constituição o
critério de distribuição do Fundo do Desenvolvimento Regional e a governança do
Conselho Federativo. Perguntei se isso não engessaria tudo.
— Acho que não, porque nós estamos tratando
na Constituição de comandos que teriam que ser interpretados em lei
complementar. São 57 menções a leis complementares no texto aprovado pela
Câmara. Temos até hoje referências a leis complementares aprovadas na
Constituição e que não foram votadas. Os comandos devem estar no texto
constitucional. Em relação ao Conselho Federativo, acho que o texto tem que ser
autoexplicativo. Para ficar claro qual é o comando do pacto federativo.
Ele disse que o país precisa saber
exatamente o custo de cada exceção. E por isso ele pediu ao Ministério da
Fazenda o estudo simulando a alíquota com e sem as exceções. A diferença foi de
cinco pontos percentuais a mais com a manutenção de todos os favorecimentos a
setores.
—A sociedade brasileira tem que ter
absoluta noção do custo-benefício de cada uma dessas exceções porque afinal,
quem vai aprovar ou desaprovar esses benefícios será a opinião pública. No
estudo do Ministério da Fazenda, a alíquota pode ser de 22% ou 27%, é o quanto
efetivamente o governo calcula que essas exceções podem custar — diz o senador.
Apesar disso, outros setores estão indo
pedir tratamento diferenciado. Perguntei especificamente sobre advogados e
profissionais liberais em geral. Ele respondeu o seguinte:
—Há um consenso se formando de que não dá
para ficar como está atualmente, numa subtributação, mas também não dá para
levar para o patamar que foi aprovado na Câmara dos Deputados, porque é um
aumento de carga abusivo, que acabará criando novas distorções.
O senador é do Amazonas e, por óbvio,
defende a Zona Franca de Manaus, mas concorda com a ideia de criar um fundo que
financie a transição de projetos atualmente subsidiados por outros que tenham a
ver com a bioeconomia.
—Esse fundo de sustentabilidade e de
transição econômica foi pensado porque o Amazonas perderá, no período da
transição da reforma tributária, 15% da sua capacidade econômica. É o estado
que mais perde com a mudança da cobrança da origem (como é hoje) para o destino
(como será). Alguns produtos fabricados lá vão desaparecer. O DVD era um
produto extremamente relevante para a Zona Franca, até que surgiu o streaming e
acabou com a indústria da noite para o dia. Será necessário a aprovação do
Estado do Amazonas para que os produtos que percam nessa transição sejam
substituídos por outros.
O senador defende também a exploração de
petróleo no Mar da Amazônia.
—A 30 Km de onde nós estamos querendo
prospectar, a França, na Guiana Francesa, já tem 14 poços de produção com
empresas das mais diversas nacionalidades. É possível fazer isso com
sustentabilidade, alta tecnologia e mitigação. A questão da sustentabilidade
não significa manter um santuário, significa ter responsabilidade para com a
Amazônia.
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