Folha de S. Paulo
Na trilha do julgamento, Supremo chegará ao
papel de Bolsonaro na intentona de 8/1
A certa altura do voto do ministro Gilmar Mendes no julgamento do
primeiro condenado pela intentona
de 8 de janeiro de 2023, o decano da corte pontuou: "Falta
alguém".
Referia-se a quem dominava os fatos que
acabara de relatar numa linha do tempo dos inúmeros e repetidos atos de
insuflação que culminariam na tentativa de golpe de Estado.
Para os bons entendedores dali e de alhures, aquelas duas palavras bastaram. Serviram à compreensão de que o sujeito oculto no cenário traçado com precisão e contundência por Gilmar e por demais ministros sobre o significado dos ataques chama-se Jair Bolsonaro.
O que se depreende desse início de
julgamento é que a hora dele chegará. Ao acompanhar na maioria o voto do
relator Alexandre
de Moraes, o Supremo
Tribunal Federal estabeleceu as balizas para as análises das condutas
de quem executou, patrocinou e, sobretudo, incentivou ações cujo ápice deu-se
naquele domingo nomeado o "dia da infâmia" pela ministra Rosa Weber.
Como, quando, onde e quem começou tudo? O
engendramento não surgiu das cabeças dos que compõem a leva dos réus executores
nem de um sentimento espontâneo do núcleo dos patrocinadores financeiros.
Foram —todos vimos, pois o mentor não
procurou esconder (ao contrário, exibia-se)— estimulados desde o início do
mandato de Bolsonaro a pensar que uma ruptura da ordem institucional era
possível.
Primeiro, o então presidente cercou-se de
militares invocando os ecos da ditadura como a forma de melhores tempos para o
país. Depois, passou a pregar a desobediência civil à Justiça enquanto mantinha
o Congresso ocupado com a administração do Orçamento.
Ensinou a seus seguidores o caminho para
desacreditar de antemão o processo eleitoral e, ao sobrevir a derrota,
recolheu-se em silencioso autoexílio como quem aguarda um acontecimento de cuja
responsabilidade a distância o absolveria. É o plano que o Supremo está em via
de desvendar.
Um comentário:
O sujeito nunca esteve oculto... Só ficou na moita depois de perder a eleição, e fugiu pros EUA antes do fim do mandato. Mas todos sabiam onde o sujeito estava!
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