Folha de S. Paulo
Governo patina numa área que petistas tratam
como desafio criado por transformações pós-2013
Lula tinha
uma ideia fixa antes de sair de cena para a
cirurgia no quadril. Nos dez dias que antecederam a operação, o
presidente falou oito vezes sobre o que já chamou de "novo mundo do trabalho".
Afirmou estar incomodado com empregos precários e bateu na tecla da regulação
dos aplicativos de entregas.
"Tem muita gente trabalhando em condições quase subumanas", disse. "A gente não está naquela de exigir que tenha carteira profissional assinada se não quiser. [...] O que a gente tem preocupação é garantir para ele um sistema de seguridade social, que, quando ele estiver numa situação difícil, tenha o Estado para dar um suporte de sobrevivência."
O mundo do trabalho é hoje bem diferente
daquele com que Lula conviveu até 2010. Ainda que uma política
para o salário mínimo e o incentivo à abertura de vagas na
construção civil tenham efeitos positivos, formuladores petistas reconhecem que
o governo precisa encontrar soluções que representem uma atualização de sua
plataforma.
A gestão de Lula ainda patina. Nas últimas
semanas, o ministro do Trabalho lançou provocações aos aplicativos (propondo
uma ideia incipiente de concorrência estatal e sugerindo que as empresas podem
ir embora se quiserem) e retomou a pauta do financiamento de sindicatos.
Aliados do presidente admitem que os desafios
são maiores e que faltam planos para enfrentar temas como a qualificação
profissional para a economia verde
e para setores dependentes de novas tecnologias. No caso dos aplicativos, o
perigo é aborrecer uma parcela de trabalhadores que temem perder autonomia e
rejeitam o controle do governo.
O PT considera o
assunto delicado porque sua relação política com a classe trabalhadora mudou
depois de 2013. Além das transformações nas relações entre patrão e empregado,
a última década foi marcada por uma expansão de visões conservadoras sobre o
papel do Estado, pelo enfraquecimento do movimento sindical e por uma perda de
espaço do partido nas periferias.
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Fato.
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