quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

William Waack - O futuro distante

O Estado de S. Paulo

O Brasil oferece a imagem de um país que não sabe explorar seu potencial

Para um estrangeiro participando do Fórum Econômico Mundial, em Davos, o Brasil não deve ter sido um país fácil de ser decifrado. Num mesmo dia ele ouviu do ministro de Minas e Energia que o petróleo continuará sendo – e muito – explorado. E da ministra do Meio Ambiente que negará permissões para mais exploração de petróleo.

Ouviu de ambos que o Brasil é “a” solução para o investimento privado na transição de energia (leia-se economia verde). Seria por tentar ressuscitar o capitalismo de Estado e projetos estatais da velha indústria pesada, com seu direcionamento para os tais “campeões nacionais”, como desconfia o Financial Times (muito lido pela turma que frequenta Davos), que seja a aposta do presidente Lula?

Falar de mudança climática gera tráfego copioso e gratuito na internet, mas, a julgar por outro material publicado em Davos – pesquisa da Fundação Dom Cabral e do próprio Fórum sobre o futuro do crescimento –, o buraco para a economia brasileira é bem mais embaixo. Mais uma vez o País desponta nesse tipo de análise por suas incomparáveis potencialidades (água e produção de alimentos) e suas imensas fragilidades.

A principal é ligada ao “ecossistema tecnológico”, conceito que engloba tanto os clássicos como inovação e desenvolvimento de tecnologias quanto a formação de capital humano e ambiente de negócios (tributação, propriedade intelectual e regulação). Apenas no quesito capital humano calcula-se que 44% das habilidades dos trabalhadores no Brasil devem sofrer alterações nos próximos cinco anos e 60% da força de trabalho vai necessitar de treinamento.

Como se vê, a questão não se reduz a afinar discursos entre áreas com visões conflitantes da exploração de recursos. Todo mundo reconhece que investimento em infraestrutura, educação e formação de capital humano é fator essencial para crescimento em qualquer lugar do planeta, mas não explica tudo.

O diferencial essencial, conclui o texto da Dom Cabral, são gestão pública e investimentos que garantam melhor ambiente de negócios, estimulem novas empresas, atraiam capital externo e tenham impacto na renda per capita. Nesse sentido, o Brasil tem tido grandes dificuldades e, apesar do sucesso de setores como aeronáutica e agricultura/pecuária, no seu conjunto é uma área estagnada em relação às principais economias.

A percepção de que o Brasil se move pouco, embora desfrute de fatores favoráveis (inclusive geopolíticos), surge em outro levantamento publicado em Davos, feito entre executivos, dando conta de certa decepção em relação ao País como lugar estratégico. Devem estar se perguntando por que demoramos tanto para chegar ao futuro. •

 

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